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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

VALE...TUDO!


Antigamente, nas aldeias, vilas, cidades pequenas e bairros das maiores, era vulgar os merceeiro venderem a crédito a clientes escolhidos - de boas contas - o que não evitava 100% os calotes mas ajudava quem recebia à semana, à quinzena e mesmo ao mês...Costumavam ter um caderninho para  cada caso onde iam anotando as compras diárias dos clientes e, ao fim do período combinado, somava-se tudo e faziam-se as contas...Os clientes que sabiam escrever costumavam ter os caderninhos em seu poder, e escreviam com o seu próprio punho o rol das compras e, depois de aviar, o merceeiro colocava os preços...Era um sistema que, segundo julgo, ainda subsiste nalguns lugares e que até terá tendência a renascer face às dificuldades económicas com que parte importante da população se debate...
Em Cabo Verde, pelo menos durante os tempos que por lá vivi, entre 1943 e 1977, existia o "vício" do "Vale"... Era um pedaço de papel qualquer onde se pudesse escrever meia dúzia de palavras, para deixar nas lojas em troca da compra de tudo...E quando dizemos tudo, significamos isso mesmo: TUDO! 
Ia-se à Casa do Leão comprar um livro, e fazia-se um Vale; ia-se ao Benvindo comprar uma camisa de Macau, e fazia-se um Vale; ia-se à Drogaria comprar uns parafusos, e fazia-se um vale; ia-se ao Café Portugal tomar um groguinho e um pastelinho de peixe, e fazia-se um Vale...Até se ia ao cinema, quer ao Éden-Park quer ao Parque Miramar à custa de Vales e nem o Blá escapava a fazer umas corridas do seu belo Mercedes branco, pagas a Vale...Claro que no fim de cada mês, lá eram somados os vales e a malta andava de loja em loja, de bar em bar, de cinema em cinema, a pagar o que devia e dar início a um novo ciclo...Algumas vezes havia bronca pois havia uns "brothers" que se esqueciam ou se atrasavam o que podia colocar o sistema em perigo com enorme prejuízo para toda a classe dos "Valistas" do Mindelo para quem, andar com dinheiro no bolso não era prioritário: era o lenço, o maço de tabaco, isqueiro ou fosforos "Jonkopings" (?) e...pouco mais, uma vez que, como se sabe, o Vale dava para tudo...
Claro que parece que havia uma excepção, pois as "meninas" de Lombo e não só tinham uma política "comercial" que não deixava margem para dúvidas: "D'nhêro da mon, costa na tchôn!" 

7 comentários:

  1. Era um bom método para evitar roubo, pois não se carregava dinheiro no bolso.Havia confiança.Hoje em dia acho difícil ser implantado tal método com sucesso.
    Tenhas uma linda semana.Bjs Eloah

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  2. Em pequenas localidaes e bairros ainda se utliza este sistema com tendência a desaparecer. Pois há cada vez mais caloteiros... :(
    bjs

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  3. Os fósforos suecos já estão no PRAIA DE BOTE, em destaque.

    Braça com luzinha parafinada,
    Djack

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  4. ..." D'nhêro na mon, costa na tchon"...

    Algumas empresárias em nome individual, admitiam a modalidade do: - "Tchame bô reloge deposito"
    O depósito servia de garantia...Posso testemunhar!

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  5. Tem razão o amigo Mendes e não aldraba... nem outra coisa se esperava.

    Ver no PRAIA DE BOTE o post [0206] UM ACIDENTE, UMA CARTA, UM PEDIDO

    Ali se fala da entrega de um relógio como penhor de umas massas pedidas...

    Braça com ponteiros,
    Djack

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  6. Ainda o post lá atrás, Lusíadas em crioulo. Quem tem estado muito empenhado em verter o Camões para crioulo tem sido o galardoadíssimo poeta José Luís Tavares, aliás excelente cultor da língua do Luís Vaz.

    Braça zarolho,
    Djack

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  7. Pois, minha gente, não estava à espera desta recepção...Eloah, minha amiga, a sua alusão à confiança, deu-me o mote para uma próxima abordagem ao terma...
    Paula, infelizmente, assim é minha filha, e dificilmente se voltará ao passado...
    Stula, origado pelos complementos...
    Djack, à luz sueca dos jonkopings apreciei devidamente o post e lá fui rememorar o 0208...Obrigado!

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