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quinta-feira, 8 de maio de 2014

[6879] - PANTEÃO DOS PENSADORES...


DOIS VULTOS DA CULTURA CABOVERDIANA - GABRIEL MARIANO 
E BALTASAR LOPES, NUMA FOTO DE Jorge Pinheiro, PARTILHADA POR
Gabriela Mariano ATRAVÉS DO NOSSO AMIGO José F. Lopes...
Tive o raro privilégio de ter tido um como condiscípulo e camarada e, o outro, como
professor e amigo que, vá-se lá saber porquê, sempre me chamou "Zico"...
Venero, sincera e sentidamente, a memória destes dois gigantes do
conhecimento e da cultura!

4 comentários:

  1. Meus caros,

    Gabriel Mariano, não o conheci. Mas tive Nhô Baltas como professor em Francês, no 2.º ano do Gil, em 1964-65. A memória que dele possuo encontra-se algo esbatida, obviamente, mas mantém-se a lembrança de um homem extremamente culto e cuja personalidade e modo de ensinar, como diz o Adriano, nos prendia do princípio ao fim dos 50 minutos de aula. Que toda a gente lhe tinha um enorme respeito, é outra coisa que mantenho como dado adquirido.

    Hoje, depois do que li sobre ele e dele (tenho quatro edições de "Chiquinho", uma delas em catalão - que me foi gentilmente oferecida pelo bubistano Dr. Celso Celestino - e uma edição rara de "Os trabalhos e os dias") ampliou-se a minha noção de que se trata de facto de uma das grandes figuras da lusitanidade e da cabo-verdianidade.

    Diz o Adriano que ele merecia ter sido apanhado por uma universidade mas que esse facto o guardou para nós, com benefício nosso. É verdade, mas isso não aconteceu por culpa das ditas academias mas sim por culpa da PIDE e um pouco por desejo dele, também: a Baltazar não lhe foi possível aceitar convite para leccionar a nível superior em Portugal porque tinha no seu espírito a missão de servir as ilhas - onde, na altura, não havia academia e porque para integrar a academia de Lisboa foi impedido pela PIDE (tinha sido convidado por Orlando Ribeiro e por Jacinto do Prado Coelho, dois "monstros" da cultura portuguesa).

    Braça baltazariana,
    Djack

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  2. No dia 9 de Maio de 2014 às 17:35, silva.luiz escreveu:
    Meus Caros: em Maio de 1989 morreu Baltasar Lopes em Portugal. No mesmo mês a noss Associaçao Solidarité Cap-verdienne em França prestou-lhe uma grande homenagem na Cité Universitaire de Paris, tendo usado da palavra o Michel Laban (seu tradutor em francês) o Alfredo Margarido e eu. Houve uma tarde musical com a participaçao da Cesaria Evora e uma sessao de poesia cabo-verdiana. Editamos também um poster dele e um cartão poético em sua homenagem. Tive-os como amigos e especial o Gabriel Mariano com quem falava de tudo inclusivé da literatura e da poesia em lugares dispersos como na ilha do Maio, na Praia e em Paris. Tanto o Baltasar Lopes como o Gabriel Mariano morreram com uma grande sensaçao de ingratidao da parte do Governo e antigos colegas. Sugiro ao Jack Saial de publicar esta fotografia no seu blogue.
    LUIS SILVA

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  3. Tive a felicidade de o ter nos 1° e 2° anos (em português e francês) e, mais tarde, nos exames de fim de ciclo (era externo).
    Nunca mais esqueci a "espremidura" que me deu para que guardasse as notas da escrita. Grande HOMEM que era o Dr. Baltazar, no mesmo dia, no caminho do seu passeio à tardinha, fez um desvio e para ir felicitar o meu Pai.

    Do Gabriel recordarei sempre que aceitou o meu convite para escrever "Clandestinos no Céu" e "Clandestinos na terra", escrevendo, à tabela, as duas famosas mornas "Sina de Cabo Verde" e "Mudjer Bonita" para os teatros do Castilho contribuindo para que nunca mais se parasse no Mindelo esta actividade que se encontrava morta e enterrada havia poucos anos.

    Das vidas e obras do Tio e do sobrinho todos conhecem


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  4. Eu, enquanto aluno do liceu, ​lamento dizer que o meu contacto com Baltasar Lopes se resumiu à relação professor-aluno. Mas nos anos anteriores o tive como professor de francês e português. No 3º ciclo, altura em que a adolescência já está no seu dealbar e transita para o amadurecimento da personalidade, apenas o apanhei como professor de Organização Política e Administrativa da Nação (OPAM), sem possibilidade de o ter como professor das áreas nucleares do seu saber, porque fui para a área das Ciências. Hoje, sinto pena que tenha sido assim, ou seja, que não tenha sido aluno de Letras. Mais ainda quando só anos depois, com as minhas leituras de iniciativa pessoal (autodidactismo), é que percebi bem a dimensão desmesurada do intelecto e do saber daquele homem. Assim, tal como há dias confessei ao Luiz Silva, sinto em mim um vazio onde se entrechocam um remorso irremissível e uma saudade retrospectiva.
    Realmente, estes dois homens são vultos notáveis da nossa cultura, mas o Baltasar Lopes é único e é inimitável. Não sei se alguma vez aparecerá um cabo-verdiano da sua estirpe.
    Resta dizer que ele tinha o talento de transformar a OPAM em algo interessante, porque ia muito além da substância estéril e fastidiosa daquela disciplina. Associava o conteúdo da disciplina a outras áreas do conhecimento e assim obrigava-nos a puxar pela mente para compreendermos a relação simbiótica que existe entre os vários saberes das ciências sociais. Não era fácil corresponder às suas expectativas e normalmente o desapontávamos com a nossa ignorância. Mas a verdade é que saíamos da sala de aula embevecidos e rendidos. Aquele homem devia ser sido professor de etapas superiores do ensino. Dir-se-á então ao jeito da nossa expressão crioula: mal empregado estava o Baltasar Lopes no Gil Eanes. Mas ainda bem que ele lá permaneceu porque assim temos hoje possibilidade de lhe tributar o sentido da nossa imensa gratidão.

    Abraço

    Adriano

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