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quinta-feira, 31 de julho de 2014

[7238] - HOLOCAUSTO BRASILEIRO...

 ...........................................................              Neste livro-reportagem fundamental, a premiada jornalista Daniela Arbex resgata do esquecimento um dos capítulos mais macabros da nossa história: a barbárie e a desumanidade praticadas, durante a maior parte do século XX, no maior hospício do Brasil, conhecido por Colônia, situado na cidade mineira de Barbacena. Ao fazê-lo, a autora traz à luz um genocídio cometido, sistematicamente, pelo Estado brasileiro, com a conivência de médicos, funcionários e também da população, pois nenhuma violação dos direitos humanos mais básicos se sustenta por tanto tempo sem a omissão da sociedade.

Pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros da Colônia. Em sua maioria, haviam sido internadas à força. Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelava ou que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Eram meninas grávidas violentadas por seus patrões, esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento, homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo menos 33 eram crianças.

Quando chegavam ao hospício, suas cabeças eram raspadas, suas roupas arrancadas e seus nomes descartados pelos funcionários, que os rebatizavam. Daniela Arbex devolve nome, história e identidade aos pacientes, verdadeiros sobreviventes de um holocausto, como Maria de Jesus, internada porque se sentia triste, ou Antônio Gomes da Silva, sem diagnóstico, que, dos 34 anos de internação, ficou mudo durante 21 anos porque ninguém se lembrou de perguntar se ele falava. Os pacientes da Colônia às vezes comiam ratos, bebiam água do esgoto ou urina, dormiam sobre capim, eram espancados e violados. Nas noites geladas da Serra da Mantiqueira, eram deixados ao relento, nus ou cobertos apenas por trapos. Pelo menos 30 bebês foram roubados de suas mães. As pacientes conseguiam proteger sua gravidez passando fezes sobre a barriga para não serem tocadas. Mas, logo depois do parto, os bebês eram tirados de seus braços e doados. Alguns morriam de frio, fome e doença. Morriam também de choque. Às vezes os eletrochoques eram tantos e tão fortes, que a sobrecarga derrubava a rede do município. Nos períodos de maior lotação, 16 pessoas morriam a cada dia. Ao morrer, davam lucro. Entre 1969 e 1980, 1.853 corpos de pacientes do manicômio foram vendidos para 17 faculdades de medicina do país, sem que ninguém questionasse. Quando houve excesso de cadáveres e o mercado encolheu, os corpos foram decompostos em ácido, no pátio da Colônia, diante dos pacientes, para que as ossadas pudessem ser comercializadas. Nada se perdia, exceto a vida.

No início dos anos 60, depois de conhecer a Colônia, o fotógrafo Luiz Alfredo, da revista O Cruzeiro, desabafou com o chefe: "Aquilo é um assassinato em massa". Em 1979, o psiquiatra italiano Franco Basaglia, pioneiro da luta pelo fim dos manicômios que também visitou a Colônia, declarou numa coletiva de imprensa: "Estive hoje num campo de concentração nazista. Em lugar nenhum do mundo, presenciei uma tragédia como essa".

in Folha de S.Paulo
Original brasleiro
Pesquisa de A,Mendes e Z.Azevedo

[7237] - HISTÓRIAS POR DETRÁS DA HISTÓRIA...


…” A Ilha de S. Vicente é, há muitos anos, sede de uma poderosa e vasta estação de telegrafia por cabos submarinos, pertencentes à companhia inglesa “Western Telegraph Co.”.
A Estação liga-se, por meio de uma vasta rede de cabos, à Europa, à América e à África. Em virtude da sua situação natural, por ela transitam a maioria dos telegramas que circulam entre esses três continentes, dando por isso um rendimento colossal à companhia, pagando esta ao Estado, determinadas taxas, prefixadas em contratos que pelo seu volume, constituiriam sempre um valioso rendimento.
Na legislação portuguesa, está claramente consignado, desde 1914, que 50% desse rendimento pertencem à Colónia e o restante à Metrópole, mas devido à intervenção inoportuna, ilegal, despótica e cheia de sofismas da Administração Geral dos Correios e Telégrafos da Metrópole, nada ou quase nada Cabo Verde recebera até há poucos meses, desse caudaloso rendimento, porque aquela administração, aproveitando-se da sua antiga situação de intermediária com a companhia inglesa, se tem locupletado com o total dos rendimentos”…
Apesar dos protestos e das reclamações de ministros, governantes, senadores e deputados; apesar de todas as diligências levadas a cabo por quem de direito para resolver esse conflito, fazendo entrega à Colónia o que lhe pertencia; apesar de Cabo Verde ter suportado nos últimos anos, desde 1919, uma pavorosa crise, vendo morrer de fome, aos milhares, os seus filhos, tendo até de recorrer à Caridade pública, exausto como estava de recursos e cheio de miséria, a Administração Geral dos Correios e Telégrafos, entrincheirada no seu egoísmo e na sua arrogância resistiu durante muitos e muitos anos a todas as solicitações e a todos os protestos, assistindo indiferente e insensível às cruciantes misérias e sofrimentos que assolavam Cabo Verde”…
Viriato da Fonseca
Gazeta das Colónias -- 1924
Pesquisa de A.Mendes


[7236] - RENOVAR A REPÚBLICA...

Há alguns dias, na televisão, vi e ouvi o Dr. Pinto Balsemão, no âmbito de uma qualquer celebração ligada ao PSD, dizer algo que me impressionou por vir ao encontro daquilo que eu próprio sinto e penso sob a situação actual do nosso País...
Dizia ele que é tempo de a Constituição ser revista, não com simples retoques cosméticos, como tem acontecido nas revisões anteriores, mas tão profundamente quanto necessário, inclusivamente,  prevendo a criação de uma segunda câmara e a alteração do próprio regime com passagem a um sistema semipresidencial...
Alem disso, referiu a necessidade de uma nova lei eleitoral e a implementação do voto electrónico...
Não sei se alguma vez os comprometidos deputados da Assembleia da Republica, escolhidos pelos partidos e não pelo povo que neles é forçado a votar, terão coragem pessoal e discernimento politico suficientes para três quartas partes deles fazerem, finalmente, algo de valioso pela Nação cujos interesses juraram defender, de dedos cruzados atrás das costas!


[7235] - VENA AMORIS...


Algumas histórias têm explicações diferentes. Existem muitas versões para o costume da aliança, como símbolo de compromisso, colocada no 4º dedo da mão esquerda, mas nenhuma foi realmente comprovada.
Os romanos, por exemplo,  acreditavam que nesse dedo (anelar) existe uma veia que está ligada directamente ao coração. Então, a aliança colocada sobre essa veia estaria também ligada ao símbolo do amor. Daí, ser conhecida como "vena amoris" - a veia do amor...
Na Inglaterra medieval, a noiva usava inicialmente a aliança no dedo polegar (era moda nessa época) e, no casamento, o noivo ia mudando a aliança de dedo, enquanto recitava “Em nome do pai, do Filho e do Espírito Santo”. A cada menção, ele avançada um dedo. Assim, do polegar chegava ao anelar e aí permanecia para sempre...
 Outra é a de que o dedo anelar, da mão esquerda é o menos utilizado de todos os dez dedos. Dessa forma, a aliança, ali, corria menos riscos e estava mais protegida e, portanto, também o amor do casal!

quarta-feira, 30 de julho de 2014

[7234] - VELHARIAS,,,



Este é o objecto postal mais antigo que o nosso amigo A.Mendes conseguiu descobrir até hoje - 1906... De notar que o velho postal fez a viagem de S. Vicente a Lisboa em, apenas, 11 dias o que, para a época, era capaz de ser significativo...O "Ilhéu dos Pássaros" ou "Bird Island", aparece aqui numa perspectiva pouco usual sendo bem visíveis as instalações do farol e a casa do faroleiro...


terça-feira, 29 de julho de 2014

[7233] - A VELHA GUERREIRA...


O A,Mendes desafia os nossos visitantes a proporem uma legenda para esta foto...

[7232] - TAP...DE MAL A PIOR...


GOSTARIA DE PERCEBER QUE VANTAGENS PARA A EMPRESA PODERÃO ADVIR DA ANUNCIADA GREVE DOS
PILOTOS DA TAP!...

[7231] - CARGA DA CAVALARIA...PESADA...

Colab. de Tuta Azevedo

[7230] - A CHURRASQUEIRA SOLAR...


A tecnologia usada no aparelho, que pode atingir 450º Celsius, é primorosa.
Ele vem equipado com uma bateria à base de nitrato de lítio, o que lhe rende uma autonomia de cerca de 25 horas entre cada recarga.
Isso significa que a energia armazenada num único dia de sol pode ser utilizada durante toda a noite e no dia seguinte também, favorecendo à agradável actividade de se cozinhar ao ar livre nas grandes cidades e atendendo especialmente as necessidades das comunidades situadas nas regiões rurais e longínquas.

Pesquisa de A.Mendes

segunda-feira, 28 de julho de 2014

[7229] - TRISTE E VERGONHOSO...


Eu não sei o que pensam os outros 9.999.999 portugueses residentes mas, pessoalmente, eu acho muito triste e imensamente vergonhoso, que  este povo, dito pacífico e de brandos costumes, necessite que o poder político faça aprovar uma lei que protege os animais de maus tratos!

domingo, 27 de julho de 2014

[7228] - REPONDO A VERDADE...

Há dias, no Post Nº 7223, editámos um esboço biográfico de Luis Romano, na série a que decidimos dar o título genérico de "Cabo Verde - Recordando Gente Grande".
Estes artigos são fruto das pesquisas de A.Mendes e, por vezes, aparecem em publicações brasileiras o que, óbviamente, mencionamos...Só que parece haver "gato" na coisa pois recebemos do Luiz Silva, há dois dias, esta mensagem:


Caro Zito: numa visita ao teu blogue deparei com uma biografia do Luiz Romano extraída  de uma publicação do Instituto José Maciel, do Brasil, sem citar as fontes e os autores. Trata-se de plágio dum texto meu, que aliàs deve ser publicado em breve num livro meu  de crónicas, em Portugal, e que  foi ja publicado no n° 37 da Revista LATITUDES de Fevereiro de 2010, em Paris. Os brasileiros têm o defeito de copiar tudo e mesmo as teses dos outros. Por isso te envio o meu texto para uma leitura comparativa.
Um abraço,
Luiz

Claro que lhe respondemos a lamentar o sucedido e a prometer
que publicaríamos o seu texto, no original, o que fazemos com todo o gosto...

In memoriam

NA MORTE DO ESCRITOR CABO-VERDIANO LUÍS ROMANO

LATITUDES n° 37 de fevereiro de 2010


Com a idade de 88 anos faleceu em Natal, Brasil, o escritor cabo-verdiano Luís Romano, colaborador da revista Latitudes, figura incontornável da história da emigração e da literatura cabo-verdianas. Nasceu a 6 de Outubro de 1922 numa família judaico-cristã na Ponta do Sol, ilha de Santo Antão em Cabo Verde, onde desde a infância recebeu no seio familiar a influência dos grandes escritores portugueses e franceses. Viveu o período das secas e das fomes, nos anos quarenta, entre as ilhas de Santo Antão e São Nicolau, donde extrai a essência do seu romance Famintos. Trabalhou ainda na ilha do Sal como técnico salineiro, profissão que viria a abraçar nas suas viagens no litoral africano e no Brasil.

Das origens


A Vila de Ponta de Sol em Santo Antão, com o seu mar bravo na Boca de Pistola e seus marinheiros valentes, foi um centro económico e cultural importante na ilha nos fins do século XIX até meados do século XX. Com a sua pequena burguesia de origem judaico-cristã oriunda de Gibraltar (Espanha) e Tânger (Marrocos), conservou a sua tradição religiosa, testemunhando os dois cemitérios judaicos essa presença cultural e religiosa. O seu pai, Rafael Nobre de Melo, foi funcionário municipal na Ponta do Sol e, durante um certo período, emigrante nos Estados Unidos, mas sempre ligado à imprensa cabo-verdiana, tendo sido representante do jornal A Voz de Cabo Verde em Massachusetts nos Estados Unidos. Luís Romano era também primo de Martinho Nobre de Melo, jurista, poeta e escritor, embaixador de Portugal no Brasil, mas com pouca intervenção na vida política cabo-verdiana e que fora aluno do poeta José Lopes, na Ponta do Sol. Tanto Luís Romano como o irmão Teobaldo Virgínio, oriundos da pequena burguesia letrada e possuidora de algumas terras agrícolas, são antes de tudo verdadeiros autodidactas, cujos pais, devido às crises agrícolas não possuíam meios para se fixarem em São Vicente ou em Portugal, onde os filhos pudessem prosseguir os seus estudos. Tem também uma irmã escritora, a Rosa Nery Sttau Monteiro, que vive em Portugal.


A crise económica e a crise das secas que se vivia em Cabo Verde nos anos quarenta somente poderiam encontrar uma solução provisória com o recurso à emigração. Mas a emigração para a América estava encerrada desde 1924. As travessias oceânicas clandestinas para atingir a América nos nossos pequenos veleiros, que insistiam em conquistar esse continente à procura de novos espaços económicos e culturais, tornaram-se raros e muitas vezes só aceitavam passageiros que lá tivessem familiares que pudessem pagar os custos da viagem. Como dizia o poeta Jorge Barbosa, a América tinha fechado as portas à nossa expansão, estabelecendo quotas de emigrantes por cada país.

O caminho de Dakar


Face à impossibilidade de emigrar para a América, Luís Romano, como um antigo lançado, volta-se para a costa africana, a mais próxima, Dakar-Senegal, onde começou uma nova existência no mundo francófono, seguindo depois para o norte da África e mais tarde para a Europa. Ele é um verdadeiro emigrante, no exacto sentido do termo, homem que não escolhe profissão para assumir a satisfação das suas necessidades materiais e culturais, sempre pensando na sua participação nas transformações políticas e económicas conducentes a um Cabo Verde livre e independente.


A emigração cabo-verdiana para Dakar pouco ou nada mereceu a atenção dos literatos cabo-verdianos, tendo em conta o seu importante papel desempenhado nos anos cinquenta na vida económica, política e cultural de Cabo Verde. Foi no Senegal que nasceram os primeiros movimentos políticos para a independência e foi de onde saiu o conjunto Voz de Cabo Verde, que fez a maior divulgação da música cabo-verdiana. Contudo, especial realce merece o contributo económico da emigração em Dakar para atenuar o efeito das crises sociais e económicas que se perpetuavam em Cabo Verde. Em Dakar chegaram a residir mais de quarenta mil cabo-verdianos. Com a independência do Senegal, seguida da senegalização dos quadros, muitos cabo-verdianos emigraram para os Estados Unidos, a França e a Holanda com as respectivas famílias ou seguindo os respectivos patrões. Foi de uma grande heroicidade o trabalho dessa comunidade, cujas famílias em Cabo Verde ainda hoje estão reconhecidas.


Com o romance Famintos debaixo do braço, numa verdadeira peregrinação, Luís Romano viaja pelo interior do Senegal para sentir a África na sua total dimensão. Atravessa o rio Senegal e vai à Mauritânia e a Marrocos, trabalhando como técnico salineiro e, mais tarde, emigra para a França, onde faz estudos de engenharia mecânica e obtém a nacionalidade francesa.


A sua aventura humana leva-o à descoberta da África e da sua história totalmente excluída dos nossos manuais escolares. Em Dakar encontra uma nova geração de escritores africanos à volta da Negritude, onde já se destacavam as obras de Leophold Senghor, Aimé Césaire e Cheik Anta Diop, que mais tarde viria a publicar a sua monumental obra sobre as origens da civilização africana, intitulada Nations Nègres et Culture. Na entrevista concedida a Michel Laban (em Encontros de Escritores), conta o seu périplo pelo norte da África: 


“Demorei-me com os mandingas e yolofs, que me invocaram sua presença em Cabo Verde, embora subjectivamente, desde o tempo dos “Resgates”. Em Marrocos convivi com vários elementos das mais variadas etnias e assisti a cenas das Mil e Uma Noites que me encantaram. Também observei que alguns vestígios dessas gentes eram visíveis em Cabo Verde, mas faltava uma ligação elucidativa para as minhas constantes perguntas”. 


E assim a sua visão da identidade cabo-verdiana ou da história colonial portuguesa ia-se libertando até atingir o sentido da revolta contra a fé e o império colonial de Portugal.


Um outro aspecto não aprofundado nas obras dos escritores é a origem das fomes e suas consequências na sociedade cabo-verdiana, para as quais deve ter-se em conta a dureza da repressão colonial. Na mesma entrevista de Michel Laban diz: 


“Foi em Marrocos que me apercebi de que meus companheiros de luta intelectual ou tinham de sair como eu, ou teriam de inventar grande habilidade para manter de pé a nossa cultura, mesmo que isso fosse através de redundâncias, para não ferir a sensibilidade do sistema. Ao mesmo tempo que estudava, decidi pôr em ordem os apontamentos trazidos de Cabo Verde, para ao menos salvar tantos anos de angústia nacionalista e de idealismo libertário”.


Luís Romano saiu de Cabo Verde em 1945, levando, escondido da polícia colonial, o seu romance Famintos (romance de um povo), que marca uma viragem na literatura cabo-verdiana pela denúncia da situação colonial, que engendra fomes, mortandades e emigração forçada para as ilhas de São Tomé e Príncipe, o que na expressão de Eugénio Tavares (1868-1930) constituía um regresso à escravatura, expressão essa confirmada por intelectuais portugueses, como Jerónimo de Paiva e Alfredo Margarido.


Se o grande romancista cabo-verdiano Manuel Lopes escreve o romance Os Flagelados do Vento Leste, responsabilizando o harmatão ou a própria natureza pelas fomes cíclicas em Cabo Verde, acontece que Luís Romano, com a consciência política adquirida nas aventuras pelo mundo, passa a considerar os “flagelados do vento leste” como vítimas de uma política da fome programada pelo regime colonial português. A emigração para São Tomé e Príncipe é fortemente denunciada no romance Famintos: denuncia os recrutadores cabo-verdianos, os comissários ad hoc cabo-verdianos, os intelectuais, a administração pública cabo-verdiana e o governo colonial, que encontra a solução para as secas e as fomes com o caminho para as roças de café e cacau de São Tomé e Príncipe, que enriquecia os seus proprietários. Mais de metade dos emigrantes que trabalhavam nas roças eram consumidos pelas febres tropicais. Mas a crítica maior é dirigida contra uma pequena burguesia cabo-verdiana que se aproveita da fome para tomar a terra dos mais necessitados, abusar das jovens raparigas, chicotear os famintos e usar a fome como arma de todas as humilhações, sem qualquer reacção das autoridades coloniais, submetidas ao poder fascista do regime de Salazar.


A diferença entre o romance Famintos de Luís Romano sobre a seca, as fomes e a emigração e os de Manuel Lopes, como Os Flagelados do Vento Leste ou Chuva Braba, não está simplesmente na abordagem das fomes e da emigração. Não há revolta em Manuel Lopes, que responsabiliza o vento leste ou harmatão pelas secas e fomes, enquanto Luís Romano assume o seu romance em termos políticos subentendendo que a única via a seguir era a revolta e a independência.


 No romance Famintos, de Luís Romano, tanto o jovem estudante como o emigrante Campina têm consciência política das consequências das fomes e constituem uma espécie de aliança de classes para denunciar a fome e os seus exploradores, bem como o regime colonial fascista de Salazar. Os dois aliados escutam o violão de António Mana e Damatinha de cujas cordas sai nova morna que, cheia de revolta, exprime o sentimento do povo. Proibida por ser música de preto porque não compreendem “o que o violão de António Mana está dizendo”. E Campina continua: 


“Esse violão, rapaziada, é povo inteiro que está na agonia, chorando debaixo de postura de tocador”; e mais à frente: “Dentro desse vilão está saindo história que faz gente-homem arrepiar cabelo de cabeça: é silêncio de casa deserta de gente, é trepidação de picareta, é lanho do chicote de polícia e de Mulato no lombo de desgraçado, é agonia de gente velha acabando como murraça no lume, é homem de trabalho morrendo como cachorro cheio de coceira, é criatura a pedir esmola e esticando na porta da igreja, é barulho de boca pisando milho cru.”


Os artistas populares, à imagem do grande poeta e compositor nacional Eugénio Tavares, estiveram assim à frente do combate em defesa do povo, tal como o testemunham as mornas e as manifestações culturais de autores como Lela Maninha, Jorge Monteiro e B. Leza nos momentos de partida para São Tomé e Príncipe e Angola, iniciativas seguidas também na diáspora no Senegal, Estados Unidos e mais tarde na Holanda, onde se criou a primeira casa editora cabo-verdiana, em 1965, por Djunga de Biluca.


Assim, o romance Famintos será o primeiro romance político cabo-verdiano, cujo impacto vai ser importante para a luta de libertação de Cabo Verde e da Guiné. Amílcar Cabral e o PAIGC promoveram a edição do romance Famintos, publicado unicamente em 1962 no Brasil, mas proibido imediatamente pela censura em Portugal e colónias.


A importância da emigração nas transformações políticas e culturais de Cabo Verde

A sua evolução como escritor no espaço francófono, no contacto com a literatura realista que se produzia em França, foi determinante na reescrita do romance Famintos. Daí poder-se compreender o choque que muitos receberam, mesmo entre os intelectuais, quando da publicação do romance no Brasil. Como ele diz na entrevista de Michel Laban “muita gente, embora à distância dos anos, chegou a dizer que se tratava dum exagero emocional”, pois não esperavam que também chegasse ao ponto de denunciar os próprios irmãos da pequena burguesia cabo-verdiana como sendo os primeiros beneficiários da fome e do regime colonial.


Por isso, ele considerava fundamental a emigração como instrumento de consciencialização do homem cabo-verdiano e dizia na mesma entrevista, alguns anos após a independência de Cabo Verde e na continuidade do pensamento do claridoso Baltasar Lopes, que os intelectuais cabo-verdianos deveriam emigrar para os países dos nossos emigrantes com tradição democrática, para que se fossem consciencializar quanto às formas de emancipação do seu povo. Sobre a renovação da literatura cabo-verdiana, diz nessa entrevista:  


“Para renovar a sua temática, a literatura cabo-verdiana terá de desconcentrar-se do arquipélago e ir para perto dos nossos emigrantes, em terras estrangeiras. Nascerá então a Literatura da Diáspora Cabo-verdiana, de que nada sabemos e faz parte do nosso retrato socioeconómico. Há uma tentativa nesse sentido, no meu livro de “estórias cabo-verdianas”, ILHA, em promessa de edição, escrito justamente sobre o comportamento do nosso emigrante fora de Cabo Verde. Enquanto se repetirem assuntos ligados à monotonia do viver cabo-verdiano, será quase impossível mudar de tema, talvez por efeito de uma herança que recebia-se sem criticar. Ao passo que no estrangeiro a situação é outra: Os “casos” são diferentes, os contactos e o linguajar mais diversificados”.


Na fase inicial da luta de libertação na Guiné e Cabo Verde, Famintos de Luís Romano foi um documento importante na denúncia da colonização. O PAIGC, pela mão de Amílcar Cabral, foi um dos grandes divulgadores da obra deste autor, já que na sua obra, embora condene o apoio da pequena burguesia ao colonialismo e partilhe responsabilidades nas fomes e deportações para as roças de São Tomé, revela-nos um diálogo interessante entre o emigrante consciencializado e o estudante revolucionário.


Se o combate de Luís Romano por uma maior justiça social, pondo termo à exploração do campesinato cabo-verdiano e à emigração para São Tomé e Príncipe, incrimina a pequena burguesia cabo-verdiana, acontece que Amílcar Cabral vem estender a mão a esta burguesia, que ele considera também uma vítima do colonialismo, numa procura de aliança de classes contra o colonialismo. O projecto de Amílcar Cabral, que exigia, durante a luta, à pequena burguesia que se suicidasse enquanto classe, não se concretizou a partir do momento em que ela chegou de novo ao poder.


O livro Famintos foi lido em todos os cantos da emigração cabo-verdiana e foi fundamental para o engajamento de muitos cabo-verdianos na luta pela independência. Luís Romano apostou sempre na emigração e mesmo de Natal, no Brasil, enviava livros, jornais, revistas, etc. Foi colaborador da revista Nôs Vida da Associação Cabo-verdiana da Holanda e do Kaoberdi pa Dianti da Associação Cabo-verdiana de França (1972).


Ensaísta, com incursões na antropologia cultural, publicou Cabo Verde elo antropológico entre o Brasil e a África Mãe e vários estudos sobre a cultura cabo-verdiana. Defensor da sua língua materna – o crioulo de Santo Antão – publicou o livro de contos e poemas intitulado Lzimparim-Negrume. Na revista Latitudes publicou igualmente vários artigos. Desde os fins dos anos sessenta, mantivemos uma troca de correspondência sobre os vários assuntos ligados a Cabo Verde que, com a morte de Luís Romano, perde um dos seus maiores filhos e nós um grande amigo-irmão, como me tratava.


Luiz Silva

[7227] - NO REINO DO ÓDIO...












NESTE CONFLITO VISCERAL
NÃO HÁ INOCENTES...
TODOS SÃO CULPADOS!!!

[7226] - O BANQUEIRO...


POEMA DE CRAIG-JAMES MONCUR. DITO POR
MIKE DAVIOT...
(Sugestão de Adriano M. Lima)

http://youtu.be/Vv_989iN83I

[7225] - BEST WINE REGION TO VISIT...


Vamos a eles pessoal! Toca a votar pela região alentejana.
 
 
Subject: FW: PEDIDO DE VOTO NA REGIÃO ALENTEJO: USA TODAY | Alentejo é uma das 20 regiões finalistas para a competição - Best Wine Region to Visit...

 Amigos,

O conhecido site USA Today nomeou o Alentejo para a lista de regiões candidatas ao ranking das melhores regiões de vinho mundiais a visitar.

 Estão 20 regiões em competição, sendo que as classificações serão definidas pelo n.º de votos recebidos. Pelo que solicitamos que vote no link http://www.10best.com/awards/travel/best-wine-region-to-visit/ e que divulgue pelos seus contactos, de forma a conseguirmos uma posição de destaque para a nossa região.

As votações decorrem até 4 de Agosto e pode-se votar 1X por diaO Alentejo está neste momento em 3.º lugar neste ranking “Best Wine Region to Visit”...

sábado, 26 de julho de 2014

[7224] - GLOBALIZAR, A TODO O CUSTO...


Enquanto os jornais e as televisões falam da vida das celebridades, o Chefe da tribo dos "Kaya po" acaba de receber a pior noticia de toda a sua vida...Dilma, a Presidente do Brasil, acaba de dar luz verde à construção de uma enorme central hidroeléctrica (a 3ª maior do mundo)... A barragem inundará cerca de 400.000 hectares de floresta condenando à morte os povos que vivem nas margens do rio. Mais de 40.000 índios terão que se deslocar, buscando outras paragens para viverem!
As consequências incluem a destruição de habitats, desflorestação e o desaparecimento de espécies várias...
Costuma dizer-se que uma boa imagem vale mais do que mil palavras e esta, ilustrando as lágrimas do velho chefe índio, mostra bem o verdadeiro preço a pagar pela "qualidade de vida" dos tempos ditos "modernos"!
Já não há, no nosso mundo, lugar para aqueles que vivem de forma diferente: tudo dever ser unificado e cada um deve, em nome da mundialização, perder a sua identidade e a sua forma de vida!
Colabor. de
Valdemar Pereira
(Em francês)

sexta-feira, 25 de julho de 2014

[7223] - CABO VERDE - RECORDANDO GENTE GRANDE...

Luís Romano de Madeira Melo – Luís Romano -- 1922 – 2010.
…“ Com a idade de 88 anos faleceu em Natal – Brasil, o escritor cabo-verdiano Luís Romano, colaborador da revista LATITUDES, figura incontornável da história da emigração e da literatura cabo-verdianas. Nasceu a 6 de Outubro de 1922, numa família judaico-cristã, na Ponta do Sol, ilha de Santo Antão, em Cabo Verde onde, desde a infância, recebeu do seio familiar a influência dos grandes escritores portugueses e franceses. Viveu o período das secas e das fomes, nos anos quarenta, entre as ilhas de Santo Antão e São Nicolau, donde extrai a essência do seu romance FAMINTOS. Trabalhou ainda na ilha do Sal como técnico salineiro, profissão que viria abraçar nas suas viagens no litoral africano.
DAS ORIGENS
…” A Vila de Ponta do Sol em Santo Antão, com o seu mar bravo na Boca de Pistola e seus marinheiros valentes, foi um centro económico e cultural importante na ilha nos fins do século XIX até meados do século XX. Com a sua pequena burguesia de origem judaico-cristã oriunda de Gibraltar (Espanha) e Tânger (Marrocos), conservou a sua tradição religiosa, testemunhando os dois cemitérios judaicos essa presença cultural e religiosa. O seu pai, Rafael Nobre de Melo, foi funcionário municipal na Ponta do Sol e, durante um certo período foi emigrante nos Estados Unidos, mas sempre ligado à Imprensa caboverdiana, tendo sido representante do jornal Voz de Cabo Verde em Massachusetts. Luís Romano era também primo de Martinho Nobre de Melo, jurista, poeta e escritor. Embaixador de Portugal no Brasil, mas com pouca intervenção na vida política caboverdiana e que fora aluno do poeta José Lopes, na Ponta do Sol. Tanto Luís Romano como o irmão Teobaldo Virgínio, filhos da pequena burguesia letrada e possuidora de algumas terras agrícolas, são antes de tudo verdadeiros autodidactas, cujos pais, devido às crises agrícolas não possuíam meios para se fixarem em São Vicente ou em Portugal onde os filhos pudessem prosseguir os seus estudos. Tem também uma irmã, escritora, a Rosa Nery Sttau Monteiro, que vive em Portugal.
A crise económica e a crise das secas que se vivia em Cabo Verde nos anos quarenta somente poderiam encontrar uma solução provisória na emigração. Mas a emigração para a América estava encerrada desde 1924. As travessias oceânicas clandestinas para atingir a América nos nossos pequenos veleiros, que insistiam em conquistar esse continente à procura de novos espaços económicos e culturais, tornaram-se raros e muitas vezes só aceitavam passageiros que lá tivessem familiares que pudessem pagar os custos da viagem. Como dizia o poeta Jorge Barbosa, a América tinha fechado as portas à nossa expansão, estabelecendo quotas de emigrantes por cada país.
O CAMINHO DE DAKAR
Face à impossibilidade de emigrar para a América, Luís Romano, como um antigo lançado, volta-se para a costa africana a mais próxima de Dakar no Senegal, onde começou uma existência no mundo francófono, seguindo depois para o norte de África e mais tarde para a Europa. Um verdadeiro emigrante, no verdadeiro sentido do termo, homem que não escolhe profissão para  assumir as suas próprias responsabilidades materiais e culturais, sempre pensando na sua participação nas transformações políticas e económicas necessárias para um outro Cabo Verde, Livre e Independente.
…” Com o romance Famintos debaixo do braço, numa verdadeira peregrinação, Luís Romano viaja pelo interior do Senegal e vai à Mauritânia, Marrocos, onde trabalha como técnico salineiro e, mais tarde, emigra para França, onde faz estudos de engenharia mecânica e obtém a nacionalidade francesa.
…” Refugia-se no Brasil até à data do seu falecimento “
Dois poemas de sua autoria:
VIDA
A crioula que meus olhos beijaram a medo
perdeu-se na confusão de um porto francês
Ela sorria continuamente, erguendo no seu riso uma canção extraordinária.
Não foi um romance de amornem mesmo um pequeno segredo entre ambos.
Somente, quando Ela falava ao pé de mim, eu sentia um agradável devaneio
pela maravilha escultural duma Mulher Perfeita.
Depois,
a vida separando Nós – Dois
a confusão, os ruídos, os braços agitando-se
e o vapor levando para outros mares,
outros portos,
a graça, o mistério, o perfume e os cantares
da crioulo que meus olhos beijaram a medo
no tombadilho daquele vapor francês.
SIMBOLO
O formato daquele berço foi um símbolo
O menino em miragens impossíveis
dormia sonhando com navios de papel
enquanto eu contemplava
a cismar,
o conjunto daquela harmonia
sumindo-se na linha do mar.
Navio berço menino crioulo
navio – guia que ficou sem ir
“ navio idêntico ao navio da nossa derrota parada”.
In: Instituto José Maciel / Olímpio Maciel / Brasil
Pesquisa de A.Mendes

[7222] - ENCONTROS E DESENCONTROS...


Ministros e Secretários de Estado, Deputados e Presidentes de Câmara, Artistas, Desportistas, Jornalistas, Locutores, Médicos e Enfermeiros, Lavradores e Sapateiros, Estudantes de Todos os Níveis, Católicos e Protestantes, Homens e Mulheres, Doutores e Analfabetos, Altos e Baixos, Gordos e Magros, Ricos, Remediados e Pobres, Feios e Belos, Hetero e Homossexuais, enfim, TODOS ou quase, repetem, diariamente, que tal coisa foi DE ENCONTRO A...quando querem significar que tal coisa foi AO ENCONTRO DE...Quer dizer que dizem uma coisa desejando expressar o seu contrário!
Será que já não ensinam, nas escolas, a diferença entre uma coisa e outra? E mesmo que os professores não ensinem, por terem faltado ao exame de avaliação, as pessoas já não pensam no que dizem antes de abrir a boca em público? Acho que se devia fazer uma campanha nacional, através de todos os órgãos informativos, painéis nas auto-estradas, panfletos, circulares, posteres, filmes, etc., etc..
Nós damos a informação de partida para tal campanha, explicando que a ilustração do alto desta página, exemplifica uma situação de IR DE ENCONTRO A... A foto, abaixo, pretende ilustrar a ideia de IR AO ENCONTRO DE...As diferenças são de tal forma evidentes que não se compreende como é que há gente que ainda confunde as duas situações...



quinta-feira, 24 de julho de 2014

[7221] - VIELAS DE ENCANTAR...

 EGUISHEIM - FRANÇA

 CUNDE -TURQUIA

 BOSTON - USA

 JEREZ - ESPANHA

 VISBY - SUÉCIA

BONN - ALEMANHA

(Colab. de Valdemar Pereira)

[7220] - POEIRA DOS TEMPOS


O SAUDOSO "PIC-NIC", PONTO DE ENCONTRO NA PRAÇA NOVA, DO MINDELO, "OCUPADO" POR
"COPINHOS DE LEITE", PROVÁVELMENTE, GENTE DA BARCA SAGRES...ESTE FOI MAIS UM
DOS "EX-LIBRIS" DA CIDADE DEMOLIDOS POR UMA ESTRANHA SANHA DE DESTRUIÇÃO
DE UM PASSADO QUE É IMPOSSÍVEL APAGAR DAS PÁGINAS DA HISTÓRIA!
(Foto enviada por José F. Lopes)

[7219] - CORRIDA ÀS SUPRA E ÀS INFRA...

À discussão sobre a regionalização junta-se agora o tema da criação de autarquias inframunicipais. As razões para o debate sobre a regionalização são múltiplas mas basicamente provêm da percepção de que algumas ilhas estarão a ficar para trás. São Vicente com o seu nível de desemprego dos mais altos do país é apontado como o caso paradigmático. Já para justificar as autarquias inframunicipais, a questão da falta de autoridade parece a razão principal. Numa intervenção recente o Primeiro-ministro José Maria Neves aventou a hipótese da criação de freguesias e de julgados da paz com vista a “resolver o vazio que há em várias regiões mais remotas do país em relação à presença e/ou intervenção dos poderes e autoridades locais”.
A Constituição cabo-verdiana estabelece que as autarquias locais são os municípios, podendo a lei criar autarquias supramunicipais e inframunicipais. A Constituição não diz em que condições essas novas entidades podem ser criadas mas afirma que são autarquias, ou seja, pessoas colectivas de base territorial com poderes administrativos e órgãos representativos. Aparentemente fora de questão fica a possibilidade de, no âmbito da descentralização do país, se criar regiões políticas.

O problema é que muito do que tem motivado a sociedade a discutir a regionalização tem a ver com a possibilidade de localmente nas ilhas se ter poderes que não são propriamente das autarquias, mas que eventualmente podem ser de regiões políticas autónomas como a Madeira e os Açores. O mesmo parece acontecer com os argumentos para se avançar com as freguesias. A falta de autoridade nas localidades mais remotas particularmente em matéria de conflitos e ordem pública só é, de facto, resolvida pela intervenção do Poder Central que tem competências exclusivas em matéria de organização dos órgãos de segurança. Os julgados de paz a que o PM se referiu são realmente tribunais e a relação com quaisquer autarquias só pode ser de  parceria no processo da sua  instalação. Não se confundem, como alguns pretendem sugerir, com os tribunais de zona dos tempos do partido único que conjuntamente com as milícias populares eram órgãos partidários que integravam o aparato repressivo do regime.

Os equívocos nestas matérias alimentam-se da inquietação crescente da sociedade cabo-verdiana quanto ao futuro próximo. O país cresce a um passo anémico, a pesada dívida pública diminui a capacidade de intervenção do Estado e não é visível que se tenha melhorado a capacidade de o país em atrair investimento externo e em produzir bem e serviços para exportação. Com o sufoco do sector privado nacional sente-se ainda mais os efeitos do centralismo do Estado. A reacção geral tem sido de pressionar no sentido de descentralizar para melhor redistribuir os recursos por todas as ilhas. Indo por essa via, nada, porém, está garantido. Ninguém sabe se os recursos adicionais que virão com as novas autarquias serão suficientes para diminuir as assimetrias existentes. Uma outra incógnita é se os novos poderes, quando localmente exercidos, mudarão suficientemente o ambiente de negócios para que a região seja mais dinâmica na atracção de investimentos.

Outros países fizeram diferente. Confrontados com baixas taxas de crescimento e elevada taxa de desemprego, reagiram de outra forma. Uns, como as Maurícias, a China e os chamados Tigres da Ásia criaram zonas económicas especiais com facilidades nos domínios fiscais, laborais e de acesso a factores como energia e água. Resolveram o problema do desemprego, cresceram a taxas elevadas, aumentaram as exportações e criaram uma base industrial e de serviços. Outros, como as Seychelles, adoptaram uma atitude positiva em relação ao turismo, desenvolveram uma cultura de serviço e esforçaram-se por tornar a estrutura produtiva nacional cada vez mais inclusiva de todos os cidadãos nacionais e sintonizada com as necessidades de uma expansão induzida pela procura externa.

Não se deixaram cair na tentação de ver a dinâmica da economia como resultado fundamentalmente de um esforço de cima para baixo, do Estado para os cidadãos. Perceberam que há limites no que o Estado pode propiciar. Se o sector privado não arrancar, se não houver aumento de produtividade e se o país não ganhar competitividade externa inevitavelmente virão tempos de crescimento baixo e desemprego alto e persistente. A simples relocalização dos meios escassos do Estado, sem que se mude a eficiência e eficácia da administração, sem que se reorientem as políticas de incentivo à iniciativa privada e sem que se fomente uma nova atitude que valorize o conhecimento, reconheça o mérito, e premeia a criatividade e gosto pelo risco, não trará mudanças significativas.

Entidades descentralizadas tanto a nível supramunicipal como a nível inframunicipal são importantes, mas não podem ser vistas como panaceias para os problemas complexos que se põem ao país e às populações em todos os pontos do território nacional em relação às suas pretensões justas de ter uma vida melhor. Sob pena de se vir a assistir ao crescimento da frustração e a sinais cada vez mais inquietantes de ressentimento e mesmo raiva com todas as consequências que se pode adivinhar, é fundamental que se consiga o engajamento do todo nacional num caminho que a ser seguido se  poderá vislumbrar um futuro justo e próspero para todos.
in Expresso das Ilhas - Editorial
Colab. José F. Lopes

[7218] - MANTEIGA...MELHORADA...


Um pouco de manteiga não faz mal... Uma porção na ponta de uma faca tem 2,5 gramas de gordura saturada, e o consumo diário dessa gordura não deve ultrapassar os 20 gramas.. Só que ela (a gordura) está presente também nas carnes, queijos, leite integral e enchidos. Se comer um pãozinho barrado com manteiga, não poderá comer mais nada gorduroso o resto do dia! O caminho é encontrar alimentos substitutos se você tiver colesterol alto, aquele do tipo LDL, que se deposita nas artérias, agravando os problemas do coração. Segundo as novas directrizes, para garantir a redução do risco cardiovascular, as taxas consideradas normais foram reduzidas. De agora em diante, pacientes de alto risco devem apresentar valor igual a 70 mg/dL. Antes, esta taxa era de 100 mg/dL.
Por isso lhe recomendamos a MANTEIGA MELHORADA... 

Ingredientes: 
 •2 xícaras de azeite extravirgem 
•200 g de manteiga 
•Ervas a gosto: orégãos alecrim, manjericão, etc.
•Pimenta em grão moída
•Alho triturado a gosto

Modo de preparar: 
 Misture todos os ingredientes e bata no liquidificador. Coloque no frigorifico por cerca de 4 horas até endurecer, antes de consumir. Conserve no frio... 

Revista VivaSaúde Edição 128

[7217] - POEIRA DO TEMPO...

Segundo o próprio afirma, este é o mais antigo postal sobre Cabo  Verde que o A.Mendes descobriu, até hoje...
É uma mensagem de Boas-Festas, formulada por altura da Festa dos Reis, no ano de 1907, em Queluz...
Presume-se que alguém, cuja assinatura não conseguimos desvendar, terá passado por Santiago (Praia) e adquirido o postal que, uma vez em Queluz - minha actual morada - o terá sido enviado, sabe-se lá a quem, com desejos de "Festas Muito Felizes"...
É um belo grupo e só me questiono por que razão foi titulado como "Batuque indígena"...

[7216] - A PRAIA DA FATEJA ...


 PRAIA PRÁTICAMENTE DESCONHECIDA, SITUADA NO EXTREMO SUL DA ILHA DE S.VICENTE, É DE DIFICÍLIMO ACESSO...MAU GRADO O ASPECTO LUNAR, A PAISAGEM É DIGNA DE SER APRECIADA...
(Colab. de José F. Lopes)





quarta-feira, 23 de julho de 2014

[7215] - A VERGONHA!!!...

DO BLOGUE
"DITADURA DO CONSENSO"


PROTESTO! PROTESTO! PROTESTO!
 Os cidadãos da CPLP foram traídos, ontem, em Díli, pela entrada à socapa da Guiné-Equatorial e da ditadura de Teodoro Obiang na nossa comunidade "de Países de Língua Portuguesa". Sinto-me traído pelos oito países, mas mais pelo meu - a Guiné-Bissau.
Uma moratória por si só, não invalida a pena de morte, adia-a; a língua portuguesa não é nem nunca será falada (o francês, que é a segunda língua oficial, não é falado sequer por 5 por cento da população). Obiang continua a roubar o seu povo, a torturar, a matar...
OS CHEFES DE ESTADO E DE GOVERNO DA CPLP TRAÍRAM OS POVOS DOS SEUS PAÍSES! TENHAM VERGONHA!!!
Por PROTESTO, o blog não será actualizado até que a cimeira acabe e, com alguma sorte, talvez o avião presidencial de Obiang se despenhe algures num oceano qualquer!!! É o meu desejo! António Aly Silva.
Publicada por António Aly Silva às 11:20  

[7214] - CABO VERDE - RECORDANDO GENTE GRANDE...


Manuel António Sousa Lopes
 Manuel Lopes -- (1907 – 2005)

 Nasceu no Mindelo /S. Vicente
…” Fez estudos Liceais em Coimbra, regressando a S. Vicente para trabalhar numa empresa britânica de telecomunicações. Viveu no Faial onze anos, sendo transferido para Carcavelos em 1955. Desde então radicou-se em Portugal, regressando por duas vezes ao arquipélago. É um dos escritores mais conhecidos de Cabo Verde; utiliza nas suas obras expressões em crioulo, embora escreva seus textos em português.
A sua obra estende-se pela poesia, ensaio, romance e conto, dedicando-se também à pintura” (Diário Noticias)
...” Juntamente com o seu conterrâneo cabo-verdiano Baltazar Lopes da Silva, autor do aclamado romance Chiquinho, Manuela Lopes foi um dos fundadores da revista Claridade, em 1936. Revista de inspiração insular, mas também veículo de automatização cultural e singular afirmação literária, foi um marco essencial da literatura cabo-verdiana da primeira metade do século XX.
Manuel Lopes celebrizou-se, ainda, pela publicação da “novela” Chuva Braba (de acordo com a designação que ele próprio incluiu no volume) e pelos dois livros que se lhe seguiram – O Galo que Cantou na Baía (1959, contos) e Os Flagelados do Vento Leste (1960, romance), este último adaptado para cinema em 1988.
Uma certa semelhança com o discurso neo-realista, nomeadamente o de Manuel da Fonseca (1911 – 1993) sobre as paisagens do Alentejo, evolui para a descrição bem distinta e autónoma das paisagens e das gentes cabo-verdianas, no primeiro capítulo (II parte) de Chuva Braba, do qual se transcreve um breve excerto:
…” Porto Novo não tem montanhas. Ali há vento à solta, mar raso por aí fora franjado de carneirada. Há distância: um azul que navega e náufraga num mundo sem limite. Lá adiante fica S. Vicente, cinzento, depois é só horizonte. O mar, quando cai a calma sobre o canal, desliza ora para o sul ora para o norte, consoante a direcção da corrente, como as águas dum rio que ora descessem para a foz ora remontassem da foz para a nascente.
As árvores são torcidas e tenazes, têm a riqueza dramática das desgraças hereditárias ou das indomáveis perseveranças. Cheira a marisco que vem das praias de seixos rolados e areia negra. Cheira a poeira das ruas onde há bosta de mistura. Cheira a melaço e aguardente, a fazenda e a coiro dos armazéns. Cheira a maresia no vento que sopra sobre os telhados. Mas há água canalizada da Ribeira da Mesa, um chafariz público onde as alimárias bebem, uma horta exuberante no Peixinho e um jardim emaranhado e virgem à beira mar.
Porto Novo é vila de futuro, dizem. Uma estrada paralela à praia corta-a ao meio; é a rua principal. No portinho aberto de mar picado balançam, quase sempre, um ou dois faluchos vindos de S. Vicente. O comércio progride. As lojas são providas de toda a sorte de bugigangas. Têm fazendas medidas a jardas, lenços de cores berrantes, mercearia, quinquilharias, têm espelhinhos, joias artificiais, barros de Boa Vista para todos os usos, alfaias, panelas, caldeirões de ferro de três pés, têm tudo. A clientela é vasta, quase a terça parte da população dos campos da ilha cai ali. Trazem produtos agrícolas, trocam ou vendem, invadem as lojas. Deixam os nomes nos livros de conta – corrente; pagam prestações. Há empréstimos, dívidas, hipotecas, juros astronómicos. Fornecedores de frescos à navegação do Porto Grande, vendedores e vendedeiras do mercado de S. Vicente vão ali adquirir frutas, galinhas, ovos, hortaliças, por baixo preço. Contrabandistas de aguardente pululam. Até a hora da debandada das tropas de burricos, dos homens e mulheres de campo, ao meio – dia ou uma hora da tarde, a estrada enche-se de movimento e gritos num vaivém de feira ambulante, canastras, frutas, lenha, gado. Os faluchos zarpam ajoujados.
S. Vicente devora tudo, pede mais. Uma vela branca e oblíqua cruza com outra no meio do canal. À tarde Porto Novo é uma vila morta.”
In: Coleções Imbondeiro

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