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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

[7704] - NAS GARRAS DO DESTINO...


CABO-VERDIANOS "PRISIONEIROS" EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE, O ESPINHO CRAVADO NA MEMÓRIA DE TRÊS NAÇÕES: ACHEGAS PARA A HISTÓRIA DE UM DRAMA HUMANO AINDA EM CURSO


Todos os países têm alguns fantasmas no armário. Portugal, para não fugir à regra, possui uns quantos. Um deles é objecto desta crónica: a presença "forçada" de cabo-verdianos em São Tomé e Príncipe, para onde foram trabalhar nas roças , de modo voluntário ou imposto, em tempo colonial e de onde nunca mais conseguiram regressar à sua terra, por falta de meios económicos para o poderem fazer. É claro que Cabo Verde e São Tomé e Príncipe independentes também passaram a ter culpas no cartório dessa desgraça, ambos os países por dever moral: de cidadania e solidariedade nacional, o primeiro; por ter de algum modo usufruído para o seu desenvolvimento de mão-de-obra externa quase escrava, o segundo. Mas não se trata aqui de fazer acusações ou exigências que contudo devem constituir preocupação "rápida" dos três países, em conjunto ou ajudados por outros ou por instituições internacionais, nesse desiderato de devolver à terra que os viu nascer ou aos seus pais, largo número de homens e mulheres que se sentem estrangeiros e de facto o são numa terra que não é a sua, mesmo que ali tenham residido por décadas. Não pretendemos fazer o historial dessa odisseia de gente cabo-verdiana trasladada das respectivas ilhas para uma outra, rica em cacau e café, onde mourejaram a troco de ordenados de miséria e onde o pouco que lhes restava era obrigatoriamente gasto nos armazéns dos senhores das roças, mas tão só darmos conhecimento de meia dúzia de factos esparsos que podem constituir ajuda aos que fazem a história dessa triste saga de consequências ainda hoje não resolvidas.
Em 1914, o ministro das Colónias, tenente-coronel Lisboa de Lima  fazia uma proposta de lei estabelecendo que as ilhas de São Tomé e Príncipe pagariam uma subvenção anual a Angola, Moçambique e Cabo Verde, de modo a terem o direito de ali recrutar colonos . Só esta pequena nota dá para entender que ir dos citados territórios trabalhar para São Tomé não era coisa inocente e que desde início era decidida em Lisboa mas com ramificações nos governos dos diversos espaços coloniais que do negócio acabavam por beneficiar.
74 "serviçais" foram contratados em Cabo Verde, "para servirem em São Tomé", em Fevereiro de 1916. Mas acontece que idêntico número foi repatriado para o arquipélago de origem, "por terem concluído o prazo da sua prestação de serviço" . Vê-se assim que, pelo menos nesta altura, havia uma certa consideração pelos ditos serviçais e que estes não eram totalmente abandonados à sua sorte, findo o contrato de trabalho. 
Mas os interesses relacionados com a ida de cabo-verdianos para São Tomé eram ainda mais profundos e podiam ser também encontrados na administração intermédia local. Indica-o uma irónica entrevista feita em 1924 pelo correspondente de A Alvorada (New Bedford, EUA), a Mário Alfama de Melo "na qualidade de homem conhecedor dos diversos ramos de serviço público" . Questionado sobre se sabia se na Repartição Marítima da Praia era permitido cobrar alguma importância por cada serviçal que embarcava para São Tomé e Príncipe ou mais portos do sul e qual era a lei reguladora do caso, Alfama respondeu: "Segundo o parágrafo 2.º do artigo 49.º do Regulamento Geral do trabalho dos indígenas, Decreto n.º 951 de 14 de Outubro de 1914, é devida à autoridade marítima no porto da Praia, a quantia de $50 por cada serviçal que embarcar para fora da colónia, visto a referida autoridade conferir uma guia na qual vão mencionados os respectivos nomes, aos serviçais, documento que legalmente é passado em substituição do passaporte para evitar dificuldades aos emigrantes." Tentando aprofundar a questão, o dito correspondente pergunta-lhe em seguida: "A referida importância é emolumento pessoal do Patrão-mor?" É então que Melo se desdobra em ataques aos "homens da Fazenda", a quem chama parasitas e diz que "entendem por uma questão de ódio, inveja e malvadez, que tal emolumento não é pessoal, direito estabelecido por uma lei geral extensiva a mais de uma colónia que não pode ser alterada a não ser pelo Governo central", em virtude de várias disposições que entretanto enumera. Enfim, a entrevista é algo confusa mas dá para perceber que havia forças de poder antagónicas, na obtenção dos ditos emolumentos, ambicionados para várias entidades locais, pelo menos o Patrão-mor e a organização que administrava os impostos.
Uma década mais tarde, em 1935, outra notícia dá-nos conta do interesse que então haveria em fixar os serviçais cabo-verdianos em São Tomé. Era ela proveniente da Comissão Central de Trabalho e Emigração do Ministério das Colónias que se estava a ocupar do recrutamento de trabalhadores para São Tomé e Príncipe e da possibilidade de se estabelecerem definitivamente nesse arquipélago famílias recrutadas em Cabo Verde, Angola e Moçambique. Vemos assim uma inflexão relativamente à ideia acima descrita, de repatriação em final de contrato – que aparentemente se tornaria vitalício…  Esta prática continua a surgir em anos subsequentes, através de organismos como a Junta Central de Trabalho , o que demonstra não só a contínua necessidade de mão-de-obra no arquipélago do Equador como a persistência do Governo português em a assegurar. 
Demonstrando alguma oscilação nas políticas de reenvio de trabalhadores africanos às suas origens, em meados de 1947, o ministro das Colónias, perante agricultores, industriais e comerciantes de São Tomé, decide que sairão dali nada menos que 18.000 serviçais de Angola e Moçambique, substituídos por igual número de pessoas dessas colónias e também de Cabo Verde. Previa-se de igual modo que em breve seguiriam para Cabinda 1000 trabalhadores cabo-verdianos . Nesse mesmo ano anunciava-se também que por Agosto e Setembro tinham ido para São Tomé 2770 indivíduos, dos quais 782 homens, 1373 mulheres e 615 crianças, grande parte constituindo famílias completas que ali se iam fixar .
Na dobragem de 1952 para 53, nos vapores "Sofala" e no "São Tomé" regressaram a Cabo Verde, Angola e Moçambique cerca de 900 trabalhadores, logo substituídos por 1077 apenas de Cabo Verde que seguiram no "Moçâmedes" para São Tomé. Era já uma época de dificuldades de recrutamento e de diminuição da produção de cacau que de 12.000 toneladas em 1930 decaíra para escassas 7617 em 1950 e subira ligeiramente para 8536 em 1953 .
Em 1970, em plena guerra colonial, e por altura da visita do Presidente Américo Thomaz a São Tomé e Príncipe, o jornal americano de língua portuguesa que temos vindo a consultar exaustivamente falava dos forros, tongas, angolares e crioulos, a propósito da situação social no arquipélago. Dizia-se ali que a população flutuante era "fundamentalmente constituída nos últimos anos por trabalhadores contratados em Cabo Verde" e que estes tinham conseguido, muitas vezes, interessar a grande massa da população nativa, os forros, nos trabalhos agrícolas, levando-a a integrar-se na civilização que os Portugueses trouxeram à África… "À noite nas roças, o cabo-verdiano que trabalha em São Tomé pega no violão e recorda a ilha de onde se afastou por alguns anos, para amealhar dinheiro… " Para sempre, infelizmente, em muitos casos, dizemos nós e os que ainda por lá sobrevivem, conforme podem… 


Joaquim Saial – mindelosempre@gmail.com


  Por volta dos meados dos anos 60 havia uma expressão muito vulgarizada em Cabo Verde que era "Bô ta sabe ness roça" que se dizia a quem estava feliz, satisfeito. É claro que a mesma se referia ao facto de que estar numa roça em São Tomé e Príncipe, com alimento certo, ainda que com reduzido vencimento, era bem melhor que vegetar em Cabo Verde sem emprego e a morrer de fome. 
  Engenheiro e docente da Escola Superior Colonial, faleceu em 1935.
  O Luso, Honolulu, EUA, 11.07.1914, p. 1.
  O Lavrador Português, Tulare, Cal. EUA, 08.07.1916.
 A Alvorada, New Bedford, EUA, 29.04.1924, p. 5.
  Diário de Notícias, New Bedford, EUA, 23.04.1935, p. 4.
  Diário de Notícias, New Bedford, EUA, 30.01.1936, p. 2.
  Diário de Notícias, New Bedford, EUA, 03.06.1947, p. 3. Ainda hoje há cerca de 50.000 cabo-verdianos em Angola, espalhados pelas províncias de Luanda, Benguela, Huíla, Cuanza Sul, Cabinda e Bengo.
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Desporto/Interior.aspx?content_id=3030944, visto em 15.12.2014.
  Diário de Notícias, New Bedford, EUA, 27.09.1947, p. 4.

[7703] - O FIM DA PICADA...

ULTIMA HORA:

Este ano, em Portugal, não houve Natal: 
O Espírito Santo faliu,
O José está preso
e o Jesus foi eliminado!...

(Djibla)

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

[7702] - SUSPENSA AJUDA NO FOGO...




Cesar Brutus " Carlos França
Era muito importante que as autoridades de Cabo Verde explicassem á população da Ilha do Fogo e ao país em geral, porque dispensaram a ajuda dos Marinheiros e Fuzileiros portugueses...Segundo estes, foram embora sem que a sua missão de ajuda humanitária ás populações da Ilha do Vulcão fosse completada na integra. Segundo os mesmos, podiam ter ajudado muito mais... A população precisava de muito mais apoio e de ajuda.Os mesmos marinheiros não entenderam o porquê da sua dispensa depois do que visualizaram no terreno. Pessoas com fome, sem casa, sem abrigos e sem comida, ficaram á sua sorte. Segundo os mesmos, as provisões oferecidas por Portugal ficaram dentro de um armazem, assim como as WC móveis e muito material, á guarda da Proteção Civil de Cabo Verde, ali na Ilha.
Depois de falar cerca de 5 horas com dezenas de marinheiros que passearam e jantaram na Cidade da Praia, segundo estes, a Marinha portuguesa vinha preparada para oferecer 200 refeições quentes por dia, durante um mês. Qual o seu espanto quando receberam ordens do Sr.Almirante para regressarem a Portugal. Ontem, á noite, depois de confraternizar com cerca de 50 marinheiros e Fuzileiros Navais, alguns choraram mesmo, pois sairam de Cabo Verde tristes por não ajudarem as populações sofredoras da Ilha do Fogo como mereciam.
Ainda hoje, o Presidente da Proteção Civil, no terreno, afirmou ás Rádios Nacionais,que provavelmente, teriam que evacuar perto de 2000 pessoas, entre elas dificientes motores, grávidas, crianças e pessoas de idade muito avançada.. .Disse, ainda,que as autoridades caboverdeanas estavam bem preparadas para o pior dos acontecimentos, caso venha a ocorrer. Será que têm essa preparação? Que meios têm para evacuar essas pessoas, em caso de urgência ?
Fica a pergunta no ar: quem dispensou os militares portugueses afirmando que já não faziam falta no terreno?
Confirma-se ?

- Este comentário apareceu a 10 de Dezembro, no Facebook...Despois, silêncio sepulcral!

[7701] - BOAS FESTAS...


[7700] - A DICA DA ÉPOCA...


Habitualmente, para se demolhar bacalhau, colocamo-lo em água corrente para retirar o excesso de sal e, posteriormente, num recipiente com água fria, com a pele voltada para cima, mudando a água de 6 em 6 horas. Consoante a dimensão do peixe, a demolha pode durar entre 24 e 48 horas

Mas e se tivermos pressa para demolhar o bacalhau? Basta demolha-lo,  durante uns minutos, em leite a ferver.

[7699] - ENCANTAMENTO...






Escolhas de Adriano M. Lima

domingo, 21 de dezembro de 2014

[7698] - IMPRUDENCIAS...

DEVAGAR...


QUE TENHO PRESSA!

Tks. Tuta Azevedo

[7697] - FOCAS NO PORTO GRANDE...


Há uns tempos publicámos esta estampa, que suscita algumas interrogações, nomeadamente, no nome do ilheu à direita da imagem...
O amigo A.Mendes lembrou-se de pedir ajuda ao Instituto de Investigação Científica Tropical e obteve a seguinte resposta que, porventura, não será definitiva mas lança alguma luz sobre o assunto:
"A referência enviada (legendas em flamengo) não faz parte dos fundos do AHU, apesar de na legenda da obra de Luis Silveira, assim aparecer.  Após consulta a um documento semelhante (legendas em inglês), informamos que o ilhéu em causa aparece designado como “The Monck Stone” (Monk Stone =A Pedra do Monge???), semelhante à designação do documento com legendagem em flamengo, apenas com alterações para a grafia da palavra “Stone”. No entanto, ao tentar obter o significado para Monck em alemão (e não em flamengo), pois a grafia de “monge” em inglês escreve-se “monk” e não “monck”, descobri que se pode tratar de uma espécie de foca referenciada como foca mediterrânica (link sobre a espécie em baixo) que pode aparecer no Oceano Atlântico, nomeadamente no arquipélago de cabo Verde. Esta versão parece-me mais aceitável.

Espero que a nossa informação o ajude na prossecução das suas investigações. Sempre ao dispor.

http://en.wikipedia.org/wiki/Mediterranean_monk_seal

Com os melhores cumprimentos,

Branca Moriés
Branca.mories@iict.pt

cdi@iict.pt"


sábado, 20 de dezembro de 2014

[7596] - QUEM NÃOTEM CÃO...


QUEM NÃO TEM CÃO CAÇA COM GATO...

Na verdade, a expressão, com o passar dos anos, adulterou-se. Inicialmente dizia-se quem não tem cão caça como gato, ou seja, esgueirando-se, astutamente, traiçoeiramente, como fazem os gatos.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

[7595] - SOLIDARIEDADE...


AFRICAN UNION

Description: logo

UNION AFRICAINE

UNIÃO AFRICANA
Addis Ababa, Ethiopia   P. O. Box 3243 Telephone: +251 11 551 7700 / +251 11 518 25 58/ Ext 2558
website: www.au.int

DIRECTORATE OF INFORMATION AND COMMUNICATION

Press Release Nº 367/2014

AUC Chairperson’s Message of Solidarity to Cape Verde following Volcanic Eruption

Addis Ababa, Ethiopia – 15 December 2014: African Union Commission Chairperson H.E. Dr. Nkosazana Dlamini Zuma has announced a donation of USD 100,000.00 in support of, and in solidarity the Government and people of Cape Verde, following the volcanic eruption that took place on 23 November 2014 in Fogo Island, in Cape Verde.
The eruption is reported to have destroyed communities, buildings including a primary school, a hotel, crops and livestock. It has also caused people to evacuate and have been relocated in temporary housing centers, while others are at risk of displacement.
The Government of Cape Verde declared a state of emergency on 25 November and appealed for international assistance.
The Chairperson is encouraged by the humanitarian responses by the government, and from different national and international institutions since the calamity struck Cape Verde. She, however, calls for more humanitarian assistance to support the efforts of the Government and the people of Cape Verde during this challenging period.


For further information contact
Directorate of Information and Communication | African Union Commission I E-mail: dic@african-union.org I Web Site: www.au.int I Addis Ababa | Ethiopia

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[7594] - MASSACRE NO PAQUISTÃO...


EM NOME DE QUE FÉ SATÂNICA SE CHACINAM CRIANÇAS INOCENTES ÀS DEZENAS?!...


[7593] - A GRANDE ODISSEIA...


Encontrei esta composição na Net...Não sei da origem, nem na finalidade, pois tanto pode querer referir-se a um estado, a um desiderato como, simplesmente, a um desejo, quiçá quimérico!
Mas serve para ilustrar os recentes sobressaltos decorrentes das fracturas ósseas que castigaram minha mulher e que foram objecto de relatos mais ou menos inflamados, mais por via de factos e procedimentos laterais do que em resultado directo das ditas fracturas...
Claro que partir uma perna ou um braço, seja em que idade e circuntâncias for, é coisa corriqueira que acontece a toda a hora e em toda a parte...Outra coisa é o trajecto entre a entrada nos Serviços de Urgência de um qualquer Hospital e a saída pós cura clínica...
Sem querer generalizar, tudo leva a crer, no entanto, que o sub-dimensionamento, quer em espaço físico quer em disponibilidade de profissionais habilitados, técnica e cívicamente, é um mal recorrente, torturante e humanamente condenável...
Não ignoramos haver gente que "entope" tais serviços por lhe ter entrado um cisco para o olho ou estar de ressaca por excessos libatórios  mas que, no entanto, são remetidos, na triagem, para o azul-claro, que chega a ter 24 horas de espera...à espera que muitos deles desistam! Tal, no entanto, e por si  só, não chega para justificar que minha  mulher, entre as Urgências de dois hospitais, tenha estado confinada a uma maca DURANTE 35 HORAS!!!
Entretanto, tudo mudou:  nalguns aspectos melhorou, noutros, nem por isso e os dias de baixa proporcionaram, também, algumas reflexões a que, brevemente, darei corpo...
Por fim e em jeito de epílogo, dou aqui respaldo às palavras de D. Maiúca na carta que endereçou a quem, de uma forma ou de outra, lhe dispensou palavras de apoio e solidariedade...Bem hajam!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

[7592] - CARTA...


Tenho o prazer de informar que, finalmente, me encontro de regresso a casa e com a feliz perspectiva de começar a ensaiar os primeiros passos de imediato, embora com a ajuda de um andarilho…Nesta hora de regozijo gostaria de poder aqui deixar uma palavra de muito apreço a quantos, amigos ou meros conhecidos, e pelos mais diversos meios, me endereçaram palavras do maior conforto e solidariedade, nas horas amargas com que tive que me confrontar...Para todos, a minha eterna gratidão…
Maiúca

Queluz, 18 de Dezembro de 2014.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

[7591] - REGIONALIZAR - AQUÉM E ALÉM MAR...

Rui Moreira
Presidente da Câmara Municipal do Porto
Regionalização...O centralismo é um crime que tem atrofiado a capacidade das cidades e das regiões se tornarem mais competitivas.
 Aquando do referendo da regionalização votei contra por não concordar com o mapa proposto. Mais tarde, arrependi-me. Admito que, apesar de tudo, teria sido melhor uma regionalização com o mapa errado do que uma não regionalização. Desde aí, o Estado tornou-se mais centralista e o País cada vez mais assimétrico. A prometida descentralização, defendida nos programas eleitorais dos sucessivos Governos, nunca aconteceu. Pelo contrário, o centralismo agudizou-se. Os órgãos descentralizadores criados e existentes quase não têm competências, quase não têm orçamento e não têm nenhum poder ou legitimidade política. As Áreas Metropolitanas são disso exemplo e vítimas. Mas por que razão são centralistas os sucessivos Governos? Enunciaram demagogicamente um objetivo que não pretendem cumprir? Os sucessivos Primeiros-Ministros desejam mal aos portugueses e pretendem promover a desigualdade e a descoesão do território? Não acredito. O centralismo é um crime que tem atrofiado a capacidade das cidades e regiões se tornarem mais competitivas e, com isso, catapultarem o País para outra dimensão económica e social. Não acredito que seja premeditado. Acredito que tenha muito mais a ver com um reflexo condicionado. À medida que a UE e o BCE vão captando soberania ao Estado, os Governos tendem a roubar soberania delegada, iludindo-se com um poder fátuo, que se desvanece perante a insensatez com que surge aos olhos dos cidadãos. Admito que não seja altura para colocarmos em cima da mesa o tema, que crie mais Estado entre as camadas já existentes. Mas é tempo para priorizar a discussão acerca de uma regionalização política verdadeira, que passe soberania para níveis políticos mais próximos do cidadão. Numa altura em que se pretende atabalhoadamente desmantelar setores como os das águas e dos transportes, era bom que o tema entrasse no debate político e não se perdesse tempo em processos estéreis e nada produtivos, que o cidadão não entende. (Correio da Manhã)
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José Fortes Lopes

O presidente da câmara do Porto que o diga - o centralismo é um crime! Qualquer político sensato e moderno não o dirá melhor. Mesmo assim o Porto nem se pode queixar muito do excesso de Centralismo de Lisboa, quando comparado com S. Vicente para não dizer outras ilhas. De resto, acredito que se acontecesse com o Norte de Portugal aquilo que acontece em Cabo Verde, um centralismo/burocrático, fanático e ideológico, da idade média, Portugal se desintegrava... O Porto e a Região Norte de Portugal têm economias pujantes, grandes universidades e centros  de pesquisa de nível internacional, empresas de ponta instaladas, liberdade de investimentos... Não têm um Estado papão  e têm, sobretudo, massa crítica, mas muita massa crítica ou seja, recursos humanos instalados  que asseguram a dinâmica deste importante e vital espaço da economia portuguesa. Para além disso os traumas revolucionários do 25 de Abril há muito que foram sarados, embora persistam inúmeros problemas na democracia portuguesa. A esquizofrenia política que se vive em Cabo Verde é incomparavelmente  mais nociva que o actual desnorte que se sente em Portugal resultante das crises e a democracia formal vai funcionando num país que se democratizou/civilizou, pelo menos comparando com os outros países europeus, desde de entrou para a UE. E, sobretudo, há alternância política que refresca o pais, para além de haver contra-poderes: órgãos de fiscalização e intelectuais de craveira internacional. E mesmo assim a insatisfação é geral relativamente ao estado da democracia portuguesa. Para além disso não há hordas de fanáticos partidarizados, o povo português tira e põe governos com uma boa regularidade, não temos situações mugabianas. Portanto com o Centralismo à portuguesa a cidade do Porto pode ir vivendo tranquila largos anos de centralismo 'bon enfant'. Em Cabo vede temos o centralismo herdado do Centralismo Democrático, do fanatismo político doentio, e de várias utopias ainda não saradas. Para além disso andamos dezenas de anos para trás intelectual e civilizacionalmente, cruzamo-nos com Portugal mas em direcções opostas. Portanto, o Mal é outro!
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Adriano M.. Lima

José, muito oportuna é a tua réplica à opinião do presidente da Câmara do Porto, o Rui Moreira. E a reflexão que aqui produzes é muito valiosa e clarificadora dos nossos propósitos.
No caso de Portugal, é manifesta a macrocefalia de Lisboa, onde quase tudo se concentra, à custa de um equilíbrio regional repartido que seria a todos os títulos salutar para o desenvolvimento do país e para o moral da nação. Não se admite que os empreendimentos económicos se tenham concentrado em grande escala na periferia da cidade, enquanto o interior se ia desertificando. E não há sinais de travão a essa tendência, pelo contrário, o actual governo vem apostando no encerramento de serviços localizados no interior, alegando sub-aproveitamento, quando, se há sub-aproveitamento, é devido a uma progressiva desertificação do interior provocada pela tendência absorvente de Lisboa e sua periferia urbana. O interior é hoje beneficiado de uma moderna e profusa rede rodoviária e nem por isso se promoveu a fixação nele de empreendimentos económicos, o que poderia fazer-se com estímulos fiscais atractivos. O presidente da Câmara de Viseu é outro partidário da regionalização e volta e meia escreve sobre o tema num jornal diário de tiragem nacional.
Embora isso, dizes bem quando aludes à diferença de mentalidade entre o eleitorado português e o cabo-verdiano. Em Portugal, a alternância política tem funcionado, em Cabo Verde é o que temos visto, correndo-se o risco da eternização do mesmo partido no poder,  o que pode significar a instalação progressiva de um regime autoritário caucionado pelo voto popular. Situação que é um absurdo sociológico mas que pode acontecer. O nosso povo é que saberá com que linhas se quer coser.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

[7590] - OLÁ!...ATÉ AMANHÃ!...


O Celestino, há muito que trabalhava numa fábrica de carnes, que contava com enormes câmaras frigoríficos que era da sua responsabilidade inspeccionar...
Uma tarde, ao dar por findo o seu dia de trabalho, um golpe de ar surpreendeu-o dentro de uma das câmaras, fechando a porta que era impossível abrir pela parte de dentro...
De nada serviria gritar ou bater na porta: ninguém o ouviria e o Celestino, enregelado mau grado a protecção adicional do colete térmico começou a aperceber-se de que só um milagre o salvaria de uma morte atroz...
Teria passado uma hora, quando, afinal, o milagre se deu e ele sentiu, mais do que ouviu, a porta da enorme câmara abrir-se...Era o segurança que, solicito o amparou para fora da armadilha mortal!
Instado a explicar o que se passara, o segurança explicou:
- Eu trabalho nesta fábrica há mais de 35 anos e o Celestino é o único que, pela manhã, quando entra, me saúda com um jovial "olá!" e, à tardinha, à saída, se despede com um sonoro "até amanhã!"... Para os outros trabalhadores, é como se eu fosse invisível...Hoje, depois de, de manhã, o ter visto entrar e ouvido o seu "olá!", estranhei quando, muito depois de todos terem saído, não ter ouvido o seu "até amanhã!"...Por isso, vim procurá-lo e, graças a Deus, encontrei-o!...
Moral da história - Ser humilde e respeitar o próximo não custa nada, e pode salvar-lhe a vida!

-Adaptação de uma história ilustrada recebida
por e.mal de Adriano Miranda Lima.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

, [7587] - ...E, Á TERCEIRA VEZ, ACONTECEU...

Pelas 09,30 Hrs., D.Maria do Carmo, pela terceira vez em dez dias, desceu ao Bloco Operatório do Serviço de Ortopedia do Hospital Dr. Fernando da Fonseca, vulgo, Amadora-Sintra e, à 10,45 Hrs. ainda não tinha sido recambiada...o que era um bom sinal...
Cerca das 13,00 Hrs.  fomos, finalmente confortados com a notícia de que a operação tinha sido levado a cabo com êxito...Neste momento, às 14,15 Hrs. soubemos que já se encontra nos Cuidados Intermédios pelo que, mais logo, depois da 16,00 Hrs. já poderá ser visitada por um pessoa de cada vez...~
Finalmente, e ao fim de uma penosa peregrinação de ONZE DIAS pelo purgatório da Saúde (!) Nacional, a D. Maria do Carmo parece ter sido bafejada pelos ventos da fortuna e, se os deuses continuarem favoráveis,  lá para terça-feira da semana que vem estará de regresso ao lar para um Santo Natal no seio da família...
Desejo, neste momento, endereçar um agradecimento muito profundo a todos quantos, aqui e pelo telefone, manifestaram a sua solidariedade e transmitiram os seus votos de restabelecimento...Sabe bem, muito bem, mesmo, a gente sentir o carinho e o apoio de gente boa que, por isso mesmo, continuará a ocupar um lugar de gratidão muito especial no nosso coração!
O mundo é, sem dúvida, um lugar bem melhor porque vocês, nossas amigas e nossos amigos, existem! Que Deus vos guarde e proteja!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

[7586] - A SEMHORA "PRESIDENTA"...

Pilar-del-Rio
A jornalista Pilar del Rio costuma explicar, com um ar de catedrática no assunto, que dantes não havia mulheres presidentes e por isso é que não existia a palavra presidenta... Daí que ela diga insistentemente que é Presidenta da Fundação José Saramago e se refira a Assunção Esteves como Presidenta da Assembleia da República.
 Ainda nesta semana, escutei Helena Roseta dizer: «Presidenta!», retorquindo ao comentário de um jornalista da SIC Notícias, muito segura da sua afirmação... 
 A propósito desta questão recebi o texto que se segue e que transcrevo:

Uma belíssima aula de português.
 Foi elaborada para acabar de uma vez por todas com toda e qualquer dúvida se temos presidente ou presidenta.  
A presidenta foi estudanta?  
Existe a palavra: PRESIDENTA?
 Que tal colocarmos um "BASTA" no assunto?!
No português existem os particípios activos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio activo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante... Qual é o particípio activo do verbo ser? O particípio activo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade... 
Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a acção que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte. 
Portanto, em Português correcto, a pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha. Diz-se capela ardente, e não capela "ardenta"; diz-se estudante, e não estudanta"; diz-se adolescente, e não "adolescenta"; diz-se paciente, e não "pacienta". 
Um bom exemplo do erro grosseiro seria:

"A candidata a presidenta comporta-se como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta".

Colab. Tuta Azevedo


[7585] - TERRA STIMADA...

Rosário da Luz
A minha geração cresceu numa época profundamente romântica para o país e foi alimentada pelas narrativas mais poéticas da sua história. Aprendemos que a pátria era flagelada pelo Vento Leste; que mesmo assim, o seu povo – trabalhador, corajoso e solidário – amava-a acima de tudo.  Aprendemos que quem partia, morria de saudade; que não se vivia enquanto se estava em terra longe, a não ser na esperança de voltar. Aprendemos que o Cabo-verdiano era humilde, que a sua pobreza era envergonhada, que amdjer d’nos terra era sacrificada e que o saber era venerado.
Foi-nos ensinado que o valoroso povo.cv asfixiava sob o jugo estrangeiro; precisava de progresso e teve garra para responder. Mininus mansustomaram consciência e substituíram a negra bandeira da fome pela bandeira da luta; e, contra todos os obstáculos,  os melhores de entre o povo – os seus heróis – elevaram a terra dos nossos avós ao sagrado estatuto de nação independente. Nessa altura, a Independência reluzia como uma amante recente, cuja absoluta sedução ainda não tinha sido sequer aflorada pela realidade. Sob a sua luz, a paz e o progresso da pátria amada eram mais do que certos.
Na ética Confuciana, o conceito de piedade filial – xiáo – constitui um elemento basilar da responsabilidade moral e social. Estados autoritários em todos os estágios de desenvolvimento – China antiga, Japão Imperial, Alemanha Nazi, União Soviética, China Maoísta e tantos na África pós-colonial – utilizaram o culto familiar do páter e o arquétipo dos antepassados como ferramenta poderosa na estruturação da lealdade do indivíduo ao Estado e ao Príncipe. O princípio de devoção filial foi transferido do patriarca para o Imperador, Ditador, ou Revolucionário-mor; e as honras devidas aos antepassados tribais passaram para a Pátria personificada.
Pátria – terra do meu páter – é uma palavra que sempre me desagradou pelo seu cunho machista. “Eu não tenho pátria, tenho mátria
e quero frátria!” canta Caetano Veloso em Língua, no álbum Velô. O estado é paiporque é aquele que nos mobiliza com a sua vontade implacável e que nos reduz a meros peões da sua glória; aquele que talvez nos permita participar dessa glória (e das suas benesses) mas sob cuja autoridade nos devemos vergar. Contudo, durante a maior parte da história da humanidade, o território que compartilhamos com quem fala a mesma língua foi concebido no feminino: mátria. A nossa terra é mãeporque é aquela que nos pariu e cujos ciclos nos dão sustento.
Em Cabo Verde, a nossa ribeira é a nossa mátria. A relação que temos com a autoridade da mátria é muito mais soft do que a que mantemos com o poder do Estado; mas não deixamos de ser remetidos para o estatuto de produto, e não o de produtor. Somos tão-somente filhos da mátria-ribeira; encontramos conforto no seu peito acolhedor, mas não ocorre ao rebento tentar transformar a natureza da genitora que o sustenta com o seu solo e os seus hábitos. À exceção da ocorrência de uma singularidade, o indivíduo que tenta modificar de moto próprio a sua mátria normalmente acaba rejeitado por ela.
Quanto á pátria, esta edificou-se em tempo recorde no imaginário.cv, e foi fortemente impulsionada pela retórica da Primeira República. Cabo Verde foi um dos tais estados revolucionários pós-coloniais acima referidos, que adaptou o culto do patriarca e dos antepassados ao culto dos Heróis Nacionais e da Pátria Amada. Tão seduzido quanto coagido, o Cabo-verdiano aprendeu rapidamente a conceber o Estado como austera autoridade patriarcal, ainda mais inatingível que a mátria pelos ímpetos de transformação dos seus filiados.
Motherland ou fatherland, é evidente que a concepção de nos tera estritamente como progenitora apresenta uma problemática mais premente do que o simbolismo de género; uma problemática que está na base do nosso entendimento e exercício da cidadania. Assim como a idealização do progenitor tem um efeito castrador sobre a psique do indivíduo, a conceptualização do Estado exclusivamente enquantoprodutor, e não produto, tem um efeito castrador sobre a qualidade do cidadão.
Cabo Verde saiu da ribeira, e há 25 anos que eliminou a obrigação constitucional de render culto á Pátria Imortal. Agora vivemos em democracia; e para que este sistema funcione, o cidadão tem que assumir a terra também como sua filha. Não estamos aqui para venerá-la, nem como mátria nem como pátria,  quando a nossa obrigação é educá-la; a missão moldadora da nação é inerente á cidadania. Infelizmente, como bem sabe qualquer encarregado de um menor, o processo de educação requer visão, coragem, disciplina e sacrifício por parte do educador.
E foi assim que um belo dia acordamos e realizamos que está tudo ao contrário do Kauberdi que nos ensinaram a idealizar. Naturalmente; não podemos ser cidadãos egoístas e negligentes e esperar que a nação se desenvolva com um carácter exemplar. Os educadores omissos criam o tipo de pátria que vai fazer quarenta anos e ainda depende de esmolas para alimentar os filhos; os pedagogos irresponsáveis produzem pátrias sujas, sub-educadas, violentas e antissociais. O projeto original de Pátria Gloriosa solveu-se num quadro deprimente de Pátria Indigente. A pátria é nossa filha e não a soubemos criar.
E a frátria? Liberté, Egalité, Fraternité – frátria é o papo central da democracia. Já não se trata de produzir um universo onde o indivíduo é submetido arbitrariamente à glória do Estado. Na frátria, o culto do patriarca é substituído pela celebração da igualdade entre irmãos; o que se quer agora é um sistema onde o Estadoserve o indivíduo. Mas, mais uma vez, é ao poder parental que cabe criar um lar onde os irmãos vivem em igualdade; enquanto educador da nação, é ao cidadão que cabe produzir a frátria. Contudo, está bem claro que apesar de toda a conversa abnegada de serviço á nação, nenhuma figura ou organização.cv parece interessada em colocar-se genuinamente ao serviço do seu irmão – nem mesmo quando este serviço é muito bem remunerado.
Para quem – como eu – cresceu e amadureceu num turbilhão romântico de mátria, pátria e frátria, é violento testemunhar o descalabro sequencial de todos estes ideais: da segurança da mátria, da grandeza da pátria e das oportunidades da frátria. É triste realizar que desses três sistemas, o presente guardou apenas o pior: o paroquialismo da mátria, o autoritarismo da pátria e a rivalidade da frátria. A frátria.cv foi quem nos brindou com o atual quadro de desolação: o espetáculo circense das facções locais em concorrência aberta pelos recursos do Estado e pelos agrados das empresas; e a promoção de privilégios privados, individuais e corporativos, com base em apelos á igualdade e democracia, e com o pleno suporte dos despojados.
Tera Stimada, fala a sério. Mas não me é possível deixar de a estimar. Mãe é mãe – ela a minha e eu a dela. E assim como as mães continuam a amar filhos que se transformaram em toxicodependentes, bandidos, ou simplesmente boçais, eu, como tantos dos seus progenitores, continuo a amar profundamente a minha pátria indigente. A nossa dedicação pode não lhe servir de grande coisa; o establishment da sua administração está hermeticamente organizado contra a paz e o progresso. Imagino que, neste momento, a tarefa das boas mães consista em descobrir os métodos passíveis de desmantelar os vícios de comportamento que impedem o florescimento da nossa pupila. Mas entretanto – enquanto o djunta monnão acontece e a Pátria permanece neste Estado – o meu único conforto é carpir o meu descontentamento, tal como qualquer educadora frustrada.
domingo, 07 dezembro 2014 00:00

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

[7584] - A SAÚDE ESTÁ MORIBUNDA - CENA 3...


Ainda não foi desta!
Programada para primeira da manhã de hoje, a cirurgia de D. Maria do Carmo foi, primeiro, adiada para hoje, à tarde, depois...para sexta-feira, se Deus quiser!
Descida, uma vez mais, ao Bloco Operatório, de manhã, alguém se lembrou que, dadas certas implicações de ordem neurológica, seria aconselhável pedir luz verde ao neurologista que ordenou um electro-encefalograma, ao passo que o anestesista também achou conveniente fazer um teste para se aplicar a anestesia mais aconselhável ao estado da doente...
Regressada à enfermaria, a expectativa era que fosse operada no período da tarde, que se prolonga até à 21,00 horas e, por isso, não almoçou...As horas foram-se escoando e, quando a hora da visita terminou (às 20,00 hrs) ainda se esperava pela palavra do neurologista para esclarecer a situação: operação ou jantar!
Às 21,30 Hrs, por telefonema nosso, somos informados que D. Maria do Carmo já não seria operada hoje e que estava, por isso, a jantar...
Achamos sobremaneira meritório o cuidado de antecipar todos os cenários possíveis, antes de uma intervenção cirúrgica, nomeadamente se se trata de alguém de avançada idade, como é o caso...Já não entendemos é esta propensão para os Serviços de Cirurgia Ortopédica do Hospital Amador -Sintra para navegar à vista...A paciente já está internada há NOVE DIAS, e só nove dias passados é que alguém se lembra de pedir batatinhas ao neurologista e opinião ao anestesista?
Que raio de programação vem a ser esta? Estamos num Hospital ou no Matadouro Municipal?
Já estou a ver a barraca que vai ser quando eu receber as contas dos Hospitais e me negar a pagar certas coisas devidas a duplicações de análises e exames e excesso de internamento por absoluta falta de metodologia e organização...A ver vamos!
Até sexta...
P.S. - Ocorreu-me, súbitamente, a ideia, quiçá peregrina, de que o pessoal do Hospital anda a prolongar a estadía de D. Maria do Carmo, propositadamente, para desfrutar do seu aniversário, que ocorrerá amanhã, 11 de Dezembro!

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

[7583] - O ASSALTO À RÁDIO BARLAVENTO...


Segundo o jornal A Nação, assinala-se hoje a tomada da Rádio Barlavento. Segundo o mesmo jornal "...a tomada da Rádio Barlavento, na Praça Nova, no Mindelo, deu-se a 09 de Dezembro de 1974, por um grupo de populares, constituído na maioria por jovens revoltados com os conteúdos da programação dessa estação emissora."
É questão para perguntar: se um grupo de populares  estava descontente com a programação de uma rádio, porque é que não criaram uma rádio do PAIGC, já que este partido tinha e tem tanto dinheiro?
Está toda a gente com o rabo escondidinho a inventar história da carochinha. Como é que é possível vir agora com este argumento de populares descontentes quando se sabe que isso é pura mentira e que a tomada da Rádio foi decidida por um 'État Major', obviamente com as mãos do PAIGC de permeio? Nenhum cidadão ou grupo de cidadãos mindelenses podia fazer uma tal acção, a menos que  fosse telecomandada ou encomendada!
Não se pode reescrever a História à conveniência. Um acto ilegal é sempre um acto ilegal seja qual for o contexto, seja qual for a sua motivação, pelo que não há hipótese de aceitar qualquer forma de legitimação da tomada de uma rádio, tanto ontem como hoje.
Pode-se justificar hoje a tomada da Rádio ou da TV, um acto ilegal, pelo simples motivo de não se gostar do seu conteúdo? Será que os mindelenses poderiam ocupá-los pelo simples facto de esses meios de comunicação fazerem a parte bela do leão ao centralismo?
Depois, todo o cuidado é pouco no tratamento deste evento e falar de festividades perante um 'coup de force', brada aos céus e revolta qualquer democrata. "Devido às incidências da catástrofe do Vulcão do Fogo, a direcção da RTC decidiu suprimir a parte "festiva" da programação pretendida..."
De resto, estes que estão a cantar de galo, não deviam fazê-lo pois ainda alguém pode ser julgado por causa desta história.
De qualquer maneira todo o mindelense de bom senso sabe hoje que o dia do re-início da ditadura, o parêntese da liberdade que abriu em 25/4/74 e durou escassos meses, fechou-se rapidamente, e a tomada da rádio correspondeu à entrega de bandeja, do poder ao PAIGC, que estava impreparado para assumir tão magna tarefa. Também hoje, todos nós podemos chupar os dedos, pois enganámo-nos redondamente, praticamos um acto condenável, reprovável, e para além disso sabe-se que o fim da nossa querida ilha e de uma certa ideia de Cabo Verde democrático, tolerante, solidário, fraternal, 'bon enfant' , 'começou a acabar' neste famigerado dia 9/12/74. 
Acredito hoje que o PAIGC acabaria por ganhar Cabo Verde sem cometer actos reprováveis e ilegalidades, e que poderíamos ter transitado para uma democracia em 1975, sem ter que de ser submetidos a um regime de um partido único. 
A tomada da rádio Barlavento é uma mancha, uma vergonha na história democrática de Cabo Verde e não devia ser comemorada em tempos de 'tolerância democrática'. (José F.Lopes)


sábado, 6 de dezembro de 2014

[7582] - A SAÚDE ESTÁ MORIBUNDA - CENA 2 ...

D. Maria do Carmo. devia ter sido operada às duas fracturas, no braço direito e na perna esquerda, ontem, às 16,00 horas...
Desceu para o Bloco Operatório cerca das 16,30 e, por volta das 18,00 horas, fomos contactados por uma enfermeira, segundo a qual a cirurgia não teria lugar, por falta de um determinado exame...
Causa espanto, para não lhe chamar outra coisa, que somente a minutos de operar quem quer que seja se descubra a falta de um maldito exame...
Mas, minha filha Paula tinha tido o bom  senso de deixar no quarto da mãe, o "dossier" completo trazido do Hospital de S. Francisco Xavier, onde constavam todos os exames e análises ali efectuados e que, aliás, a médica de Medicina Interna do Amadora-Sintra informara, dois dias atrás,  haver digitalizado para o processo de D. Maria do Carmo...
Solícita, a enfermeira terá ido ao quarto da doente em busca de tal "dossier" que remeteu ao Bloco Operatório, adiantando que, por volta das 20,00 horas "diria qualquer coisa"...
E disse...Disse que, afinal, D. Maria do Carmo não seria operada, não por falta de qualquer exame, desta feita, mas porque, simplesmente, não havia espaço disponível na sala de recobro pós operatório e que, dada a idade da paciente, não queriam correr riscos desnecessários!
As cirurgias de ortopedia ocorrem, naquele hospital, às 2ªs, 4ªs e 6ªs...Ora, como na próxima segunda-feira é feriado, não há operações para ninguém e D. Maria do Carmo será operada, se não faltar nenhum exame e houver espaço na sala de recobro, na próxima quarta-feira, nove dias depois do acidente que lhe fracturou o colo do fémur e vinte dias depois de ter fractura o úmero...
Só me ocorre, neste momento, uma interrogação: será que nenhuma das imensas cabeças pensantes que concorrem para o agendamento de uma operação cirúrgica para as 16,00 horas de determinado dia, sabia, com imenso tempo de antecedência que, àquela hora, a sala de recobro estaria lotada? Porquê, então, sujeitar a doente e os familiares a uma tal pressão, para já não falar do jejum forçado da paciente, que esteve cerca de 24 horas sem comer?
Oxalá que este drama não tenha uma cena 3...