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sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

[9969] - LÍNGUA-MÃE...

Princípios para uma Pátria da Língua Portuguesa
TEXTO: CARLOS FRAGATEIRO · 29 NOVEMBRO, 2016
IMAGEM: RUTE HENRIQUES



Entrar no projecto a Minha Pátria é a Língua Portuguesa obriga-nos, como já dissemos, a descentrarmo-nos, a sermos, para além de portugueses, brasileiros, angolanos, timorenses, cabo-verdianos, guineenses e moçambicanos
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Terra Pátria / Língua Portuguesa

Mas da mesma forma que é necessário sermos de múltiplos lugares, os da língua, é fundamental que as análises e as perspectivas que se desenvolvam sobre essa Pátria tenham em conta os múltiplos olhares e as diferentes perspectivas que esses lugares trazem. Porque juntar na mesma mesa gente de diferentes culturas e religiões a falar sobre o estado do mundo e os futuros possíveis é, necessariamente, uma vantagem estratégica no contexto internacional e uma das forças desta Pátria da Língua Portuguesa.

Da mesma forma que se hoje existe uma clara consciência que, para sermos capazes de construir um conhecimento global e complexo, é necessário trabalharmos com equipas multidisciplinares, começa também a haver consciência que temos de trabalhar com elementos das diferentes partes do mundo para que as diferentes culturas e os diferentes olhares se encontrem, se cruzem e se contaminem, na procura de uma ideia cada vez mais clara e global desta nossa Terra Pátria, como diria Edgar Morin.

Por isso, para compreendermos a realidade múltipla desta Pátria / Língua temos obrigatoriamente de trabalhar com equipas dos diferentes olhares e culturas que esta língua transporta, pois a importância de olhares de diferentes lugares que, naturalmente, trazem diferentes perspectivas, é de uma riqueza única para a compreensão do mundo complexo e múltiplo em que hoje vivemos.

Do Multidisciplinar ao Multilocal

A questão com que hoje nos confrontamos é que apesar de termos consciência que o facto de trabalharmos com equipas multilocais dá uma outra riqueza e profundidade ao que fazemos, a verdade é que isso raramente acontece. As estruturas e os projectos ficam, maior parte das vezes, fechados no seu pequeno mundo, nos seus interesses e na sua visão, sem minimamente se questionarem, e por isso há ainda muito a fazer para que esta outra realidade dos múltiplos olhares, que pensamos fundamental para a construção dum sentido para a Pátria da Língua, se possa concretizar.

O que aconteceu recentemente com o lançamento de um Atlas da Língua Portuguesa é exemplo dessa dificuldade: concebido por uma equipa do ISCTE, e patrocinado pelo Instituto Camões com prefácio do Ministro Augusto Santos Silva, este Atlas, que foi apresentado na última cimeira da CPLP no Rio de Janeiro e que pode ser um instrumento fundamental para a afirmação duma cidadania global, foi concebido por uma equipa de portugueses, quando o deveria ter sido por equipas com os múltiplos olhares e culturas que o universo desta língua tem e que são a sua grande riqueza.

Caso contrário, como acontece, não ultrapassamos as visões parciais da realidade, algo que já tinha acontecido com um outro trabalho do ISCTE sobre o Valor Económico da Língua Portuguesa, onde há uma lista de personagens de referência da língua portuguesa que se percebe claramente que é produto duma visão unilateral.

Faz – Ideias em Português

E tudo poderia ser tão simples, como se pode ver no projecto Faz, Ideias em Português, da Fundação Calouste Gulbenkian, onde olhares cruzados, entre portugueses que vivem dentro e fora de Portugal, criam propostas para melhorar o quotidiano dos portugueses. Apesar de se confinar só ao universo de Portugal, este projecto tem sido uma prova que, se juntarmos olhares múltiplos sobre uma determinada realidade, as propostas que surgem são efectivamente inovadoras. Na verdade o terreno propício para a inovação é o dos espaços múltiplos onde a discussão e o confronto de ideias são possíveis [1].

Talvez a abertura da exposição de Lisboa Global no Museu de Arte Antiga em Lisboa, adiada por razões até à vista inexplicáveis, nos possa abrir perspectivas, e ajudar-nos a perceber o que foi feito para termos sido os pioneiros da globalização, e como se construiu uma visão que nos permitisse interagir e trabalhar com outras culturas e olhares do mundo.

[1]– FAZ, ideias de origem portuguesa, é uma iniciativa dirigida à diáspora portuguesa. Sabe-se que existem 2,3 milhões de portugueses no mundo, nascidos em Portugal, e que se contarmos com os descendentes, a soma aumenta para os 5 milhões. Com o mote “Lá se pensam, cá se fazem”, FAZ desafia esses 5 milhões a conceberem, um projecto de empreendedorismo social a concretizar em território português. No fundo, FAZ é um concurso de ideias, mas também um apelo aos talentos da diáspora portuguesa para que se mobilizem no sentido de construírem o futuro da comunidade que é de todos

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